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Arce e Morales, rostos de uma tensão crescente no partido governista na Bolívia

O presidente boliviano Luis Arce e o ex-presidente Evo Morales representam dois líderes que revelaram uma polarização latente dentro do Movimento ao Socialismo (MAS), que nunca havia afetado este bloco político em seus quase 16 anos no poder no país.

Arce, que foi ministro do governo de Morales (2006-2019), venceu as eleições presidenciais de outubro de 2020 com mais de 55% dos votos, enquanto o ex-presidente continuou como líder máximo do MAS e do projeto político do governo.

No entanto, há um ano o partido governista passou a ter duas cabeças, uma na política com Morales e outra na gestão governamental com Arce e seu vice-presidente, David Choquehuanca.

As tensões surgiram quando o próprio Morales e legisladores, da área de cultivo de coca dos trópicos de Cochabamba, avaliaram a gestão de Arce, questionaram vários aspectos e sugeriram uma mudança em alguns ministérios, pedidos aos quais Arce fez “ouvido surdo”.

César Navarro, ex-ministro de Minas de Morales, disse à EFE que Arce e Choquehuanca “representam uma realidade política diferente” no MAS e a crise interna se deve a “não conseguir entender essa nova realidade”.

Perguntas de Morales

O ex-presidente Morales tem sido um forte crítico da gestão de vários ministros da Arce, tem falado de atos de corrupção no governo e denunciado constantemente que um “plano negro” está sendo elaborado contra ele pelo Executivo, depois de alguns anos atrás meses eles supostamente roubaram pelo menos três telefones celulares.

As divergências no interior do MAS se acentuaram quando os novos dirigentes foram eleitos no mês passado no Parlamento, que no caso da Câmara dos Deputados ficou nas mãos da chamada ala “arquista”, à qual se somou a aprovação de uma lei do censo, pela qual Santa Cruz, motor econômico da Bolívia e reduto da oposição, manteve greve por 36 dias.

Estas decisões, entre outras, têm sido questionadas pelos “evistas” e pelo próprio ex-presidente que qualificam os legisladores oficiais de “traidores” por concordarem com os seus pares da oposição.

Arce, que fez poucas referências ao assunto, denunciou tentativas de “desestabilizar” sua gestão dentro e fora do MAS e negou ser um “traidor”.

Ponto de inflexão

O surgimento de dois blocos no MAS ocorre “desde o momento em que Morales deixa o país” quando renunciou à Presidência em 2019 e se forma outro setor que decide ficar na Bolívia para “lutar e resistir” ao governo interino de Jeanine Áñez, disse à EFE o analista político Paul Coca.

No entanto, o deputado do MAS Rolando Cuéllar, do “arcista” ou bloco renovador, disse à EFE que o atrito começou no dia seguinte à posse presidencial de Arce, em 8 de novembro de 2020, quando Evo Morales voltou da Argentina para a Bolívia.

Morales “veio com uma lista para impor” e quer “usurpar funções como se fosse presidente do Estado” sem entender “que seu cargo expirou”, explicou o parlamentar.

O ex-ministro Navarro afirmou que o MAS vive uma “crise ideológica fortíssima” e que o governo Arce toma decisões como se fosse um “todo absoluto”, sem contar com a opinião de organizações sociais como acontecia na época de Morais.

“Pode-se vislumbrar uma fratura” se entendermos que o problema é entre Arce e Morales, mas que pode ser evitada se as organizações sociais derem “a voz” de como enfrentar a próxima eleição presidencial em 2025, disse Navarro.

O legislador governista Cuéllar sustentou que os atritos no partido governista “serão resolvidos em um congresso” quando “as maçãs podres da cesta” forem retiradas, incluindo Morales.

Enquanto Coca considerou que o MAS “está a caminho” da ruptura, mas ainda pode “remediá-la”, e isso dependerá do tratamento que Morales der a Arce e da atitude que assumir nas eleições primárias de 2024, ao aceitar uma candidatura diferente de uma sua.

Fonte: EFE/PanAm Post

Joabson João

Colunista associado para o Brasil em Duna Press Jornal e Magazine, reportando os assuntos e informações sobre atualidades sócio-políticas e econômicas da região.

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