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O Poderoso Chefão e as laranjas… Parte II

Outros casos de interpretações, algumas estapafúrdias e bem delirantes, que não tem nada a haver com as intenções dos autores já aconteceram em outras obras do cinema americano. Dois bons exemplos disso ocorreram com clássicos do cinema como “Relíquia Macabra” (The Maltese Falcon), do diretor John Houstonn, e “Trama Diabólica” (Family Plot), dirigido por Hitchcock, que foram alvos dos críticos e especialistas que tentavam encontrar nelas mensagens ocultas.

O diretor John Houstonn deve ter rido muito dos críticos que encontraram em seu principal filme “uma luz sombria que refletiria correntes profundas da sociedade americana”. Só que mais tarde notou-se este mesmo excesso de sombras em todos os filmes da Warner Bros da época, o que inspirou muita tese de doutorado de fundo até psicanalítico. Mas Rudy Behlmer, no livro Inside Warner Brothers – 1935 a 1951, sobre a história do estúdio, informou que os filmes da Warner eram escuros porque havia ordens expressas de Jack Warner, chefão do estúdio, para economizar luz.

No segundo caso, o roteirista Ernest Lehman estava dando uma entrevista num festival de Cannes a respeito do filme de Hitchcock, do qual ele escrevera o roteiro, quando um jovem crítico francês lhe contou como havia decifrado a complexa simbologia da placa de um carro que aparece no filme, 885 DJU. Lehman ouviu a longa teorização com o maior interesse mas observou: “Olhe eu detesto desapontá-lo mas a razão pela qual usei aquele número de placa é que era o número da placa do meu carro, e achei que era legalmente mais seguro do que inventar uma outra que pudesse pertencer a alguém”.

E essas laranjas ?

Sobre o suposto simbolismo nos filmes de O poderoso Chefão, as laranjas perdem parcialmente seu encanto com a explica no livro The Godfather Legacy. Nele o autor Harlen Lebo escreve: “Para (produtor de design) Dean Tavoularis, laranjas eram simplesmente um outro complemento cuidadosamente escolhido para sets de filmagem sombriamente ambientados.Nós sabíamos que esse filme não seria sobre cores brilhantes, e laranjas faziam um belo contraste” disse Tavoularis, “eu não me lembro (durante as filmagens) de ninguém dizendo ‘ei, eu gosto de laranjas como uma mensagem simbólica’ ”. O uso da laranja no primeiro filme, então, foi simplesmente feita para fins estéticos nas cenas, pois elas com sua cor chamativa eram contrastantes com o restante das cenas, geralmente escura e misteriosa, que combinava com o clima sombrio de traições, atentados e mortes.

Mas, existe um leve consolo mesmo depois de vermos quase todo o esforço mental sobre a simbologia das laranjas cair por terra depois da revelação da monótona realidade. Parte da nossa vontade de fã de ter a hipótese confirmada ainda possui um fio de esperança. O próprio diretor Francis Ford Copolla usou (suponho eu) o debate em torno das laranjas do primeiro filme para alterar a forma como utilizou o elemento de cena nos dois filmes seguidos da saga.

Isso começou como um acidente”, diz Coppola nos comentários do DVD do filme, “porém uma vez que percebemos que as laranjas foram utilizadas tão frequentemente no primeiro filme, nós usamos propositalmente nos demais.”

Coppola, e a Nova Hollywood que surgiu nos anos 1960, influenciaram fortemente a revolução cultural da época. Outros diretores da mesma geração como Beatty, Scorsese, Friedkin, Bogdanovich, de Palma, Spielberg, George Lucas, junto com seus filmes, além de O poderoso Chefão, como: Uma Rajada de Balas (Bonnie e Clyde), Motorista de taxi (Taxi Driver), O exorcista (The exorcist), A última sessão de cinema (The Last Picture Show), Operação França (The French Connection), Tubarão (Jaws) e Querra nas Estrelas (Star Wars), livraram da falência os grandes estúdios, revolucionaram o cinema e a forma como o mundo via e entendia a América, acabando com a visão idealizada no passado e mostrada nos antigos filmes como a terra das oportunidades, da liberdade e do sonho americano. E nessa onda mudaram completamente o comportamento e o modo de pensar da nova geração de jovens pós-guerra.

Nosso entusiasmo em bolar teorias e nos gabar como os mais conhecedores e dedicados admiradores frente aos demais fãs é grande. A imaginação e capacidade de elaborar idéias e interpretar supostos simbolismos do filme é tentadora e natural. Muitas vezes os próprios autores das obras estimulam essa discussão entre os fãs para manter a atenção do público na obra e criar o mito permanente ao seu redor.

Laranjas, ambientes mal iluminados, placas de carro. Todas essas coisas podem ter seu objetivo nas intenções do autor da obra, estão lá por necessidade, ou simplesmente existem mas não tem nenhuma finalidade específica. A realidade na maioria da vezes se impõe sobre às suposições e fantasias preferidas pelos fãs, ou pelos críticos ou especialistas.

Referências:

– Were oranges an intentional use of symbolism by filmmakers? https://movies.stackexchange.com/questions/67749/were-oranges-an-intentional-use-of-symbolism-by-filmmakers.

Pop, Flash, Bang: Color Accents in The Godfather – in The Craft of The Godfather https://theseventies.berkeley.edu/godfather/tag/oranges/

– What’s with All the Oranges? https://entertainment.time.com/2012/03/15/the-anniversary-you-cant-refuse-40-things-you-didnt-know-about-the-godfather/slide/whats-with-all-the-oranges/

– Castro, Ruy. Um filme é para sempre. 60 artigos sobre cinema. Organização Heloisa Seixas. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

– Coleção O Globo 2000. …E tudo acabou na tela: O poderoso Chefão. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 2000 p.

-Biskind, Peter. Como a geração Sexo, Drogas e Rock-in-Roll salvou Hollywood: Easy Riders, Hanging Bulls. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2009.


Ver também:


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PFernandes

Colunista associado para o Brasil em Duna Press Jornal e Magazine, reportando os assuntos e informações sobre atualidades sócio-políticas e econômicas da região.
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