Viagens e Turismo

15.000 km em motorhome com avó de 101 anos

Os inesquecíveis 15.000 km de motorhome de Fiona e sua avó de 101 anos por Anna Ashkova.

Fiona Lauriol não hesitou em levar sua vovó centenária em uma viagem a bordo de um motorhome, convencida de que ela tinha que aproveitar a vida até o fim. Hoje, ela percorre um país inteiro para contar sua história e tentar mudar a forma como as pessoas encaram a velhice.

Aos 40 anos, Fiona Lauriol é guiada por duas coisas: as viagens e a vontade de lutar contra o isolamento dos idosos. Uma batalha que ela enfrenta graças à sua avó Dominique, com quem percorreu 15.000 km durante dois anos a bordo de um motorhome.

No entanto, em 2017, ninguém era capaz de prever tal viagem. “Disseram-me que ela tinha uma semana de vida”, disse Fiona à Aleteia. “Decidi, portanto, trazê-la para minha casa em La Faute-sur-Mer para evitar que ela morresse longe de sua família, pois o lar de idosos em que ela ficava era na região de Paris”.

A avó teve carcinoma na cabeça, tomava muitos remédios e tinha dificuldade para se locomover sozinha. Uma enfermeira cuidava dela diariamente. Mas Fiona aprendeu todos os cuidados necessários, apesar de seu relacionamento bastante complicado com a avó. “Ela nasceu na Itália, em 1917. Chegou aos 35 anos a Paris. Ela era sedentária, enquanto eu viajo desde os 15 anos”, explica Fiona. Porém, o que Dominique não conseguia entender era o fato de sua neta ainda ser solteira.

Primeiro destino: Lourdes 

Seis meses se passaram e Dominique frustrou todas as previsões dos médicos. Ela estava cada vez melhor! Fiona, então, teve uma ideia: levá-la em uma viagem. Especialmente porque Dominique sempre quis ir à Côte d’Azur e, acima de tudo, visitar sua terra-natal na Itália. 

Se a jovem não teve medo de levar sua avó centenária a bordo de um motorhome, a mãe dela, Fosca, não estava tão entusiasmada assim. Entretanto, no final, a equipe vovó/neta levou a melhor sobre Fosca, que concedeu autorização para esta viagem, mas com a condição de que ela acompanhasse a aventura de carro.

O motorhome com avó e neta a bordo percorreu 15.000 km

“Primeiro fizemos um teste de 40 dias para ver se a vovó aguentaria”, lembra Fiona. A primeira viagem, portanto, ocorreu em outubro de 2018. O destino escolhido foi Lourdes. Muito religiosa, Dominique ficou feliz com a ideia de fazer uma pequena peregrinação familiar por lá. Uma peregrinação que infelizmente terminou mal, pois Dominique quebrou o nariz após uma queda. Mas, apesar dos oito pontos e da volta forçada para casa, ela imediatamente perguntou: “Quando vamos partir de novo?” 

Dois anos de viagem e um grande confinamento na Espanha 

Após uma breve pausa, a viagem recomeçou. “Consultávamos sempre um médico para saber se a vovó podia viajar”, diz Fiona. Desta vez, a jornada acabou sendo mais longa: quase dois anos. 

“Ocasionalmente, voltávamos para casa por alguns dias e depois partíamos novamente. Você também tem que saber que não íamos muito rápido com a vovó. Fazíamos 20 km por dia”, conta Fiona. 

No Caminho de Santiago de Compostela

Juntas, eles percorrem 15.000 quilômetros. Visitaram a Andaluzia, onde Dominique soprou suas 102 velas à beira-mar. Foi também na Andaluzia que elas passam a Semana Santa. Depois, toda a família seguiu para Santiago de Compostela . “Iniciamos a jornada em agosto de 2019 em Roncesvalles. Empurramos a cadeira da vovó por 400 km. Minha mãe nos seguiu em um motorhome, enquanto meu pai e eu caminhávamos com a vovó”, diz Fiona. 

Era Thierry, 61 anos, pai de Fiona, que comandava o programa de viagens, principalmente aquelas ligadas a lugares sagrados. 

Dominique comemora seus 102 anos em Almeria.

E depois? Depois, veio o norte de Portugal, onde Dominique conseguiu mergulhar os pés em nascentes de água quente natural. Veio também a Espanha, a visita ao deserto de Bardenas, ao santuário de Santo Inácio de Loyola e a veneração da Cruz de Cristo no mosteiro de Santo Turíbio de Liébana. 

E, então, março de 2020: tudo para por causa do coronavírus.

A pandemia 

Em 8 de março de 2020, Dominique comemorou seus 103 anos na Espanha. Alguns dias depois, o mundo inteiro ficou confinado em casa. A família ficou presa perto de Valência, na Espanha. “Moramos por dois meses em uma área de motorhome” diz Fiona. Por não quer preocupar a avó, que nasceu em plena gripe espanhola, Fiona decidiu não lhe contar nada sobre a Covid. “Dissemos a ela que estávamos esperando ela descansar antes de pegar a estrada novamente.”

Em 8 de março de 2020, Dominique comemorou seus 103 anos na Espanha

Em meados de maio de 2020, após dois meses de confinamento na Espanha, elas finalmente voltaram para casa. Como de costume, Dominique pediu para viajar novamente. Mas o médico proibiu. 

No final de junho, nem tudo estava indo como planejado. “A 40 km de nossa casa, a avó começou a mostrar sinais de fraqueza. Tive que levá-la ao pronto-socorro em Luçon”, conta Fiona. Foi lá que, no dia 29 de junho de 2020, Dominique partiu para sua última viagem, aos 103 anos, três meses e três semanas. 

“Vá vovó, não se preocupe, você está fazendo essa viagem sozinha, eu vou com você um dia, mas você pode ir, você me ensinou muito, nós nos divertimos muito. Vou sentir muito a sua falta, mas você tem o direito de se juntar a Deus para ir aborrecê-lo”, sussurrou Fiona no ouvido da avó.

Mudando o visual na velhice 

Depois de contar sua aventura com a avó em um livro, Fiona Lauriol voltou a cair na estrada, com seus pais. Ela viaja pela França para “lutar contra o isolamento dos idosos”. Ne norte a sul do país, o motorhome já parou em muitas cidades. Fiona organiza gratuitamente conferências para “mudar a forma como encaramos a velhice”. 

A aventureira de 40 anos até criou uma página no Facebook para as pessoas seguirem sua jornada. “Quanto mais seguidores tivermos, mais credibilidade teremos com os parlamentares”, diz Fiona. Segundo ela, devemos “deixar o idoso viver a vida até o fim, não proibi-lo de viver plenamente. Ao superproteger nossos idosos, tendemos a sufocá-los. E, assim, fazemos com que eles morram mais rápido”, observa. 

Às famílias, e especialmente aos jovens, Fiona aconselha a (re)criar um vínculo afetivo e de ternura com os mais velhos. Um vínculo que ela mesma conseguiu tecer com a avó graças à viagem. “Conseguimos domar e amar uma à outra. Minha avó também melhorou seu relacionamento com meu pai. Após vários meses de viagem, ela acabou chamando-o de ‘o homem bom’”, diz Fiona, acrescentando: “Graças às viagem, também reencontrei minha mãe. Ela até começou a me chamar pelos apelidos que costumava me dar quando eu era pequena”.

Todos os créditos para aleteia.org – por Anna Ashkova

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