Saúde

Coronavírus são detectados em 10% dos morcegos da Mata Atlântica, mostra estudo da USP e do Butantan

Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) identificou uma alta diversidade de coronavírus em cerca de 10% dos morcegos que habitam a Mata Atlântica, sendo todos do gênero Alfacoronavirus. Não foram detectados vírus do gênero Betacoronavirus, ao qual pertence o SARS-CoV-2, causador da Covid-19. O artigo foi publicado na revista Transboundary and Emerging Diseases e teve participação de pesquisadores do Instituto Butantan, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco, da Universidade do Vale do Itajaí e da Universidade Estadual de Campinas.

Como os morcegos são reservatórios naturais de coronavírus, a vigilância desses mamíferos tornou-se fundamental para detectar qualquer novo vírus com potencial zoonótico e prevenir novos surtos. Os cientistas capturaram morcegos em diferentes regiões do país: no Nordeste, em Pernambuco; no Sudeste, em São Paulo; e no Sul, em Santa Catarina. No total, foram capturados 456 animais de 21 espécies, que tiveram amostras biológicas coletadas para análise molecular.

Os coronavírus foram detectados em 44 amostras (9,64%). A taxa de detecção variou de acordo com a região, sendo a maior no estado de São Paulo (12,9%), seguido por Pernambuco (9,7%) e Santa Catarina (8,3%). A detecção em morcegos juvenis foi 1,7 vez maior do que nos adultos, com 9 de 60 (15%) morcegos juvenis positivos para coronavírus, contra 35 de 393 (8,8%) adultos.

Com base nos dados moleculares, os pesquisadores conseguiram detectar pela primeira vez a presença de coronavírus nas espécies D. ecaudataP. hastatus e A. cinereus. Além disso, identificaram a co-circulação de quatro subgêneros de Alfacoronavirus no Brasil.

Os autores reforçam que os morcegos desempenham um papel ecológico importante na regeneração natural das florestas, atuando na polinização e dispersão de sementes, e também no controle de insetos e pragas. “Por isso, a conservação desses mamíferos é fundamental em termos de Saúde Única (One Health)”, afirmam. O conceito de Saúde Única explora a necessidade de equilíbrio entre a saúde animal, ambiental e humana para o melhor controle de zoonoses.

Sobre os coronavírus

Os coronavírus pertencem à família Coronaviridae, que é dividida em quatro gêneros: Alfacoronavirus, Betacoronavirus, Gamacoronavirus e Deltacoronavirus. Os dois primeiros gêneros infectam humanos e outros mamíferos, enquanto os dois últimos podem ser encontrados principalmente em aves.

Nos últimos 20 anos, os Betacoronavirus foram responsáveis por dois surtos e uma pandemia. O surto de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), originário da China que se espalhou por 26 países em 2003, com 8 mil casos confirmados; o surto da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), que surgiu em 2012 na Arábia Saudita e atingiu 2,5 mil pessoas em 27 países; e a pandemia de Covid-19, que teve início na China no final de 2019 e já soma 550 milhões de casos.

O Brasil possui uma das maiores diversidades de morcegos, com 181 espécies descritas até o momento, sendo que 123 ocorrem na Mata Atlântica. A perda de floresta nativa nesse bioma, associada à abundância de coronavírus que ocorre nos morcegos, suscita o risco de salto entre espécies (ou transbordamento zoonótico), quando o vírus que naturalmente infecta um animal passa a infectar humanos. Os coronavírus já foram encontrados em 22 espécies de morcegos no país.

Este texto é uma colaboração do jornalista científico Peter Moon para o portal do Butantan.

Fonte: https://butantan.gov.br

Joice Ferreira

Colunista associada para o Brasil em Duna Press Jornal Magazine. Protetora independente e voluntária na causa animal.

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