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Mulheres nas ciências

Desde pelo menos o final do século XX, a figura de mulheres cientistas vem ganhando mais projeção dentro da historiografia das ciências e consolidando-se como um campo de estudos bastante complexo. Certos métodos, teorias e modelos, até então bastante utilizados em pesquisas na área de história das ciências, têm sido colocados em xeque por novas abordagens do tema, derivadas, sobretudo, das teorias feministas.

A pesquisadora Carolina Queiroz, do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências da Universidade Federal da Bahia, traz importantes reflexões acerca das escritas das histórias das mulheres na ciência e da importância desses estudos para a sociedade. Na primeira parte deste trabalho, foram analisadas as contribuições historiográficas dos campos da História e da História das Ciências para as reflexões sobre gênero e ciência. Na segunda parte, investigou-se como diferentes biografias de mulheres cientistas, escritas por outras mulheres, repercutiram na sociedade, contribuíram para o levantamento de questionamentos e de aportes teóricos que contribuíssem para a consolidação dos estudos de gênero no tocante à História das Ciências.

A pesquisa foi construída a partir da leitura, fichamento e levantamento dos principais estudos sobre história das mulheres e de gênero nas áreas de História, de História das Ciências (HC) e das Teorias Feministas.

O estudo analisou as ideias e considerações sobre o tema “gênero” sob o olhar das pesquisadoras norte-americanas Joan Scott e Louise Tilly, e da brasileira Rachel Soihet. A autora atentou-se para as categorias utilizadas por esses estudos, as questões políticas envolvidas nas discussões que traziam e os debates que travavam com as vertentes mais tradicionais da História.

O levantamento bibliográfico realizado perpassa uma vasta literatura do campo específico da História das Ciências, e incluiu investigações nacionais e internacionais sobre o tema “gênero e ciência”, as quais contribuíram para a construção de uma linha de abordagem e investigação dentro dessa área da HC. Além disso, a pesquisadora examinou criticamente as experiências de escrita de biografias de mulheres cientistas assinadas por escritoras, bem como a repercussão dessas obras diante dos públicos especializado e leigo. As obras escolhidas foram as biografias da geneticista Barbara McClintock (1902-1992), escrita por Evelyn Fox Keller (1983); da bioquímica Dorothy Hodgkin (1910-1994), de Georgina Ferry (1998) e da física e química Marie Curie (1867-1934), cuja autora é Barbara Goldsmith (2005). Para avaliar criticamente o impacto dessas obras e aspectos de seu processo de escrita, utilizou-se como referência as entrevistas e publicações escritas pelas próprias biógrafas sobre as experiências delas mesmas, além de críticas e resenhas feitas por outros historiadores acerca das referidas biografias.

A escrita de histórias e biografias de mulheres cientistas é um campo de pesquisa bastante consolidado em âmbito nacional e internacional. Desde meados da década de 1960, com a popularização do movimento feminista, cresceu o espaço de tais ideias entre o público leigo e nos ambientes acadêmicos. Os estudos que discutem as relações entre gênero, mulheres e ciências têm proporcionado questionamentos e gerado reflexões sobre abordagens da história que priorizam figuras masculinas, brancas, europeias e/ou norte-americanas nesse cenário. Os personagens correntemente estudados fazem parte de uma elite socioeconômica e intelectual e a prevalência destas figuras nas investigações históricas acabam por fortalecer a ideia equivocada de que a ciência é e só pode ser feita por pessoas que se encaixa em um perfil masculinizado, embranquecido e elitizado. Tal abordagem retira a complexidade dos processos de produção do conhecimento, tendendo a apagar figuras femininas que foram muitíssimos importantes para o desenvolvimento das mais diferentes áreas científicas.

No que se refere especificamente ao gênero textual biografia, o trabalho de Queiroz nos entrega alguns insights sobre as dificuldades enfrentadas durante o processo de escrita e de recepção pública desses tipos de trabalhos. A autora conclui que que houve críticas referentes às próprias cientistas, às biografias e à forma como elas foram escritas. A revisão dos estudos acerca de biografias, na perspectiva da história das ciências e das teorias feministas, propõe abordagens para a elaboração de biografias feministas de mulheres cientistas pensando nas trajetórias dessas personagens, a partir de uma ótica politizada, levando-se em consideração o local e o tempo histórico nos quais elas se inserem.

Essa pesquisa mostrou a necessidade de se pensar a ciência, a história das ciências e, especialmente, a história das mulheres nas ciências como projetos marcadamente políticos. Os lugares ocupados por mulheres cientistas foram relativizados e/ou apagados com base em argumentos vagos e simplistas, pobremente ancorados em falsos padrões de neutralidade e de objetividade. Esses vieses negam a presença de corpos, vivências e epistemologias que não se encaixam no padrão do cientista anteriormente citado. Ao adotar teorias feministas como instrumento teórico-metodológico, muitas/os pesquisadoras/es foram e ainda são questionadas/os quanto à validade científica dos trabalhos por eles realizados. Em vista disso, defende-se a ideia de que não há como fazer ciência de forma não-politizada, e que as diferentes perspectivas feministas trazem à luz muito mais do que temas de pesquisas – a autora consolida formas e estratégias que permitem às mulheres quebrar paradigmas, se afirmarem politicamente e ocuparem um lugar de destaque no campo da ciência, até então ocupado majoritariamente por homens.

Espera-se com isso, proporcionar aos pesquisadores, e a qualquer pessoa interessada em história das ciências, construir uma imagem real e fidedigna do processo de construção do conhecimento, sem nenhum preterimento de gênero ou de classe social. Nessa perspectiva, o presente trabalho contribuiu para a instrumentalização teórico-metodológica de historiadoras/es das ciências interessadas/os em escrever e/ou analisar criticamente histórias e biografias de mulheres cientistas, como também para incitar reflexões importantes acerca da construção e escrita desta pesquisa. Assim, cumpriu o seu papel de colocar à disposição do público leigo histórias de mulheres cientistas que foram escamoteadas de seu imaginário, como também o de contribuir e despertar em meninas e jovens o desejo de se tornarem cientistas.

Pesquisador(es) Responsável(eis): Carolina Queiroz Santana

Instituição(ões): Universidade Federal da Bahia

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Joice Ferreira

Colunista associada para o Brasil em Duna Press Jornal Magazine. Protetora independente e voluntária na causa animal.

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