Em 1953 um homem abandonou um filhote de Pastor Alemão à porta do Canil da Polícia Militar no Barro Branco. Este pequeno e indefeso filhote foi então acolhido e treinado pela Polícia Militar, dentro de suas rígidas normas.
Pouco tempo depois Dick, como passou a ser conhecido, já estava treinado e apto a ajudar seu parceiro inseparável, o soldado José Muniz de Souza. Não precisaram de muitas missões para perceber que se tratava de um cachorro especial e logo Dick já era o campeão das buscas realizadas pela PM. Mas o que fez este cachorro ser tão especial, foi um fato que comoveu a cidade inteira e mudou completamente o destino de uma família e do Canil da Polícia Militar de São Paulo. O Governador de São Paulo, na época, era Jânio Quadros, que mesmo contra a opinião pública, queria o fim dos cachorros na PM: “Faça os cães trabalharem, ou dissolva a matilha”.
Neste momento, um menino foi sequestrado na porta da sua casa. Chamava-se Eduardo Jaime Benevides, ou como ficou conhecido, “Eduardinho”. Jânio Quadros determinou que não fossem poupados esforços para encontrá-lo e destacou investigadores, delegados e viaturas à sua procura. Porém, após três dias de procura, nem sinal do menino.
Jânio se pronuncia novamente: “Desejo saber detalhes sobre o desaparecimento do menino. Gostaria de recomendar à promoção os que desvendarem o mistério”. Em uma última esperança, designaram os soldados e cães do Canil da Polícia Militar para encontrar “Eduardinho”. A seu favor, apenas o travesseiro do menino, para que os cachorros seguissem seu cheiro. José Muniz de Souza e seus companheiros seguiram mato adentro até que Dick parou e começou a latir.
O rastro do menino tinha sido encontrado e na sequência ele já conseguia ouvir o tênue choro de “Eduardinho” faminto e com muito frio, dentro de um buraco de um metro e meio de profundidade e coberto por folhas e zinco, na área onde hoje fica o Zoológico de São Paulo. Depois de resgatado, Eduardo disse que pediu a Deus que enviasse um anjo para salvá-lo. O Governador cumpriu sua promessa. A dupla agora eram Cabo José Muniz de Souza e Cabo Dick, que ainda recebeu como prémio pelo salvamento uma coleira de prata.
Prêmio ainda maior, foi a decisão de manter o canil e seguir com o trabalho dos cachorros e policiais, em um esforço que vem salvando muitas vidas desde então.
As histórias do Cabo Dick são contadas até hoje e seu nome é tido como o de um grande herói dentro da corporação. Um herói que veio das ruas, rejeitado pelo seu dono, que não conseguiu ver o presente que Deus tinha lhe enviado. O busto do Cabo Dick foi esculpido e se encontra no Canil da Polícia Militar de São Paulo. Nela está escrito: Ao “Cabo Dick” Campeão das Buscas Policiais. A Todos os Cães, Exemplo de Fidelidade, Coragem e Afeição” –
Fonte: São Paulo Memórias da Cidade.
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