Mundo Militar

No centenário do rádio no Brasil, Rádio Marinha marca presença no território nacional

Pesquisa aponta que 80% dos brasileiros ouvem rádio.

Em qual plataforma costumamos ouvir rádio? Essa pergunta não é difícil de ser respondida. Diversos são os canais de transmissão de áudio e a tecnologia tem sido um grande aliado ao longo desses 100 anos de história do rádio no Brasil. Ele está presente não só no dial (rádios AM e FM), mas, também, na internet, no celular, em aplicativos de streaming, em podcasts e pode até ser assistido em transmissões “ao vivo” via Youtube. Desde a sua primeira transmissão de voz oficial, em 7 de setembro de 1922, o veículo mostrou-se dinâmico, democrático e formador de opiniões. A velocidade de propagação da informação faz com que o rádio seja considerado o canal da inclusão e da instantaneidade.

Segundo o “Inside Radio 2021”, estudo da Kantar IBOPE Media realizado em 13 regiões metropolitanas pesquisadas, 80% dos brasileiros ouvem rádio. Na Região Sul, chega a 85%; no Nordeste, 81%; e no Centro-Oeste e Sudeste são 80%. Cada ouvinte passa, em média, 4 horas e 26 minutos por dia ouvindo rádio. Desse tempo, 71% é em casa; 24% no carro; 8% durante outros trajetos; e 2% no trabalho. 

Rádio Marinha
Na Marinha do Brasil (MB), o rádio apresenta-se como um meio estratégico de comunicação. Dentre os propósitos estão ampliar o conhecimento da sociedade acerca de assuntos como defesa, Amazônia Azul, mentalidade marítima e ingresso na carreira naval. Com isso, em 22 de fevereiro de 2011 nasceram as primeiras emissoras que compõem o Sistema Rádio Marinha (SisRadioMB). Inicialmente, foram duas estações em FM (Rádio Marinha FM São Pedro da Aldeia, RJ – 99,1 MHz e Rádio Marinha FM Corumbá, MS – 105,9 MHz) e uma na web, esta considerada “cabeça de rede” do Sistema. 

SO Fábio/Marinha do Brasil

Atualmente, marcando presença em todas as regiões do Brasil, o SisRadioMB é composto por sete emissoras, gerenciadas pelo Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM), com sede em Brasília (DF). O repertório musical é composto por músicas nacionais e internacionais, além de contar com programas específicos sobre determinado tema ou gênero musical. Entre os produtos veiculados estão noticiários diários com as principais informações do Brasil, do mundo e da Marinha, bem como programas e spots informativos de cunho educativos que levam prestação de serviço e de utilidade pública. Em 2022,  a página da rádio é o segundo conteúdo mais acessado do site da MB. Além disso, os resultados deste ano apontam que nos últimos três meses houve 49 mil acessos, o que demonstra a importância deste veículo para a comunicação social da Marinha.

De acordo com o Diretor do CCSM, Contra-Almirante Carlos André Coronha Macedo, ao longo dos anos, o rádio foi se adaptando às várias plataformas e dispositivos permitindo que o ouvinte consuma seus conteúdos em formatos diferentes e de acordo com a sua rotina. “É importante salientar que o rádio atravessou gerações e com as novas tecnologias nos permite fazer conexões com quem nos escuta, pois ele é multiplataforma. ´Conversarmos´ com diferentes públicos, sejam os jovens, os navegantes, nossos militares ou os ribeirinhos, por meio da rádio FM e pela internet, onde apresentamos as nossas ações em prol da sociedade brasileira e de defesa da Pátria”, ressalta.

Além das emissoras em FM e online que a Marinha do Brasil possui, outra forma de consumir os conteúdos radiofônicos produzidos pela Força Naval são: aplicativo da Marinha para celular, compatível com os sistemas Android e iOS, e o podcast “A Todo Pano”, que está no seu 22º episódio e nas principais plataformas de streaming.

MN Alves/ Marinha do Brasil

Para o radialista e âncora da Revista Brasil – programa veiculado pela Rádio Nacional AM, em Brasília (DF), Valter Lima, a força do rádio perdura entre as Forças Armadas por meio de uma comunicação direta de suas atividades em defesa do País. “Eu acho super interessante cada Força Armada, Marinha, Exército e Aeronáutica, terem a sua própria emissora de rádio. É uma maneira de ter uma comunicação direta com os integrantes das Forças e com o público externo e de abordar uma linguagem própria, apresentando assuntos operativos e exercícios militares”. 

O rádio no Brasil
Há cem anos acontecia a primeira transmissão oficial de voz no País. Quem discursava era o presidente Epitácio Pessoa direto do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ao inaugurar a Exposição Internacional em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Na ocasião, foram transmitidos trechos da ópera “O Guarani”, de Antônio Carlos Gomes. Por meio de alto-falantes e com aparelhos de rádio galena, os visitantes da exposição acompanharam a nova invenção, uma experiência científica que mudou o rumo da comunicação sem fio no Brasil. 

Diferente do som limpo que ecoa no rádio hoje, o som da transmissão da época era chiado e com ruídos. Mesmo assim, causou espanto e curiosidade de quem ouvia. O feito só foi possível devido aos transmissores de radiotelefonia instalados na Praia Vermelha e no Alto do Corcovado, na capital fluminense. 

A primeira rádio fundada no Brasil foi a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (atual Rádio MEC), em 1923, idealizada por Edgard Roquette-Pinto e Henrique Morize, ambos membros da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Letras. Nos anos 1930, com a chegada de aparelhos ao País, o rádio se popularizou e caiu no gosto dos brasileiros. Começou, neste momento, a mudar de formato a partir do Decreto-Lei de 1º de março de 1932, que autorizou a veiculação de anúncios pelo rádio, como explica o pesquisador e professor Roberto Salvador, na série sobre a História do Rádio, no seu canal no Youtube.

“O fato trouxe anúncios e dinheiro para o rádio. Surgiu a profissionalização. Nesse contexto podemos, hoje, destacar três nomes que foram importantes historicamente para o rádio: Roquette-Pinto, que trouxe o rádio para o Brasil; Ademar Casé, que trouxe anúncios e profissionalizou o rádio; e, finalmente, o Almirante Henrique Foreis Domingues, que criou o rádio espetáculo”, explica. Surgia aí a Era de Ouro do Rádio, um reinado que durou até os anos 1950 com a chegada da televisão.

SO Fábio/Marinha do Brasil

Para o âncora Valter Lima, as grandes transformações do rádio aconteceram nas décadas de 1970, 1980 e 1990 com a chegada dos novos equipamentos que compõem a mesa de som. “Todo o sistema de rádio foi mudado e para melhor. A tecnologia foi avançando e logo chegou à digitalização. Deixei de sair nos carros em busca da reportagem com equipamentos VHF (sistema de ondas) e passei a usar o celular. Olha que fantástico! Naquela época tínhamos que andar, também, com um monte de fichas para usar os orelhões, caso nenhum dos equipamentos de voz funcionasse. Tudo isso é história que eu pude acompanhar”, conta.

No dia 7 de setembro de 2022, data em que foi celebrado o centenário do Rádio no Brasil, a Empresa Brasil de Comunicação realizou o “Concerto 100 anos de Rádio no Brasil”, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no mesmo lugar da primeira transmissão radiofônica do Brasil. No repertório estavam alusões ao passado com trechos da ópera “O Guarani” e o “Choros nº 6” de Heitor Villa-Lobos. O concerto foi transmitido pela Rádio MEC e retransmitido pelas afiliadas da Rede Nacional de Comunicação Pública.

Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal no Rio de Janeiro – Imagem: Thomaz Silva/Agência Brasil

Sobre o futuro radiofônico, o professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador de rádio e mídia sonora, Marcelo Kischinhevsky, explica que a manutenção do rádio vai depender de políticas públicas, pois, hoje, há uma transição em nível internacional em direção às plataformas digitais. “O rádio digital é uma realidade na Inglaterra onde mais da metade da população já o ouve através do sistema digital. Diferentemente do Brasil, que há uma discussão em andamento. Contudo, acho importante discutir o futuro do rádio como plataforma digital entendendo que é fundamental que as pessoas possam ouvir gratuitamente, com qualidade e com abrangência territorial assim como já estão acostumadas”, conclui.

CB Schulze/Marinha do Brasil

Fonte: Agência Marinha de Notícias


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Wesley Lima

Colunista associado para o Brasil em Duna Press Jornal e Magazine, reportando os assuntos e informações sobre atualidades culturais, sócio-políticas e econômicas da região.

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