Junho violeta: mês da prevenção de doenças oculares em cães e gatos

Desde 2018, junho é conhecido como o mês da conscientização e prevenção do ceratocone, uma doença degenerativa que afeta os humanos e é caracterizada por deformar a córnea – membrana transparente que protege o olho – e pode ser causada pela simples ação de coçar os olhos constantemente (hábito geralmente associado à conjuntivite alérgica). Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 20% dos transplantes de córnea são realizados por causa dessa doença. 

Essa data foi criada para os humanos, mas o junho violeta foi estendido também para nomear o mês de conscientização e prevenção das doenças oculares em animais e reforçar a importância de levar os pets para consultas regulares com um oftalmologista veterinário.

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Principais doenças oculares 

     Todos os animais estão sujeitos à possibilidade de sofrer com alguma doença ocular ao longo da vida e alguns fatores que podem colaborar para a ocorrência dessas doenças. Por exemplo, cães e gatos de determinadas raças, portes e idades têm uma predisposição a apresentar certas enfermidades, seja por questões genéticas ou pela anatomia do crânio, órbita e pálpebras.

Algumas raças possuem predisposição à doenças oculares

As raças que possuem olhos mais “esbugalhados”, chamados de braquicefálicos, como os cães da raça Pug, Buldogue francês, Buldogue inglês, Shih-tzu, Boston terrier, Pequinês, entre outros e gatos da raça Persa e Himalaio, ficam mais suscetíveis a problemas de origem traumática, como machucados na córnea e saída do bulbo ocular da órbita para o meio externo e até olho seco, que é um ressecamento da superfície ocular.

Desses problemas relacionados à essa exposição excessiva dos olhos nessas raças, a ceratite ulcerativa é a mais comum, também conhecida como úlcera de córnea –  e é resultado de lesões na córnea caracterizada por perda do epitélio (camada mais externa da córnea) e exposição do estroma corneano (camada intermediária que corresponde a 90% da espessura da córnea) – essa lesão gera muita inflamação podendo agravar o quadro diante de uma contaminação secundária, e é uma condição dolorosa que afeta diretamente a qualidade de vida dos animais.

As causas de úlcera de córnea são diversas, dentre elas podemos citar:

Além dessas alterações, o olho seco e alterações neurológicas que afetam a sensibilidade corneana e o piscar das pálpebras também levam a quadros graves de úlcera de córnea. Produtos e substâncias químicas usados indiscriminadamente nos olhos também possuem capacidade de provocar danos severos na córnea dos animais

Ceratite Pigmentar

Os pugs merecem uma atenção a mais, pois essa raça tem predisposição à ceratite pigmentar. Esta é uma doença caracterizada por deposição de pigmentos na superfície da córnea de maneira parcial ou total com evolução rápida em animais jovens. Essa condição é resultado de inflamação crônica da córnea por conta das alterações nas pálpebras e pêlos como o entrópio de canto nasal, triquíase de carúncula, macrobléfaro e prega nasal muito grande, que necessitam de correção cirúrgica rápida e tratamento clínico agressivo para evitar a progressão da doença.

Glaucoma

glaucoma, apesar de ocorrer em todas as raças, é uma doença que tem certa predisposição genética por algumas raças como cocker spaniel, basset hound, beagle, chow-chow, samoieda, dogue alemão e husky siberiano. Estas raças são suscetíveis a glaucoma dos tipos congênito e primário. A herança genética pode provocar uma alteração anatômica, ocasionando obstrução parcial ou total do ângulo de drenagem do humor aquoso, elevando a pressão intraocular, com consequente dano às células da retina.

O glaucoma é uma doença neurodegenerativa perigosa e silenciosa, que na maioria dos casos, quando não tratada de forma correta ou diagnosticada precocemente, acarreta em perda da visão temporária ou permanente. A avaliação precoce do ângulo iridocorneano (região responsável pela drenagem do humor aquoso), através do exame de gonioscopia em raças predispostas é de extrema importância, pois elevam as chances de diagnóstico, classificação do glaucoma e tratamento.

Outra forma comum do glaucoma é o secundário, esse por sua vez é caracterizado por uma obstrução do ângulo, ocasionado por uma inflamação da úvea (uveíte) levando a deposição de conteúdo de origem inflamatória nessa região impedindo a saída do humor aquoso. O diagnóstico do glaucoma consiste na identificação precoce da causa e o tratamento pode ser tanto clínico como cirúrgico, dependendo da etiologia da doença. 

glaucoma secundário é comum tanto em cães como em gatos, sendo a uveíte a causa mais comum. As causas de uveíte são diversas: facogênicas (induzida pela lente), infecciosas, neoplásicas, metabólicas, entre outras. No entanto, em 50% dos casos em cães e 70% nos gatos não conseguimos identificar o agente causador da uveíte, essas classificamos como idiopática/ imunomediada. Porém, descartar as doenças graves que podem levar o animal a óbito e tratá-las, é de extrema importância e cabe ao veterinário especializado em oftalmologia essa responsabilidade.

Ceratoconjuntivite Seca (CCS)

Ceratoconjuntivite Seca (CCS) é comum em todas as raças de cachorros, mas algumas raças como cocker spaniel, shih-tzu, pug e lhasa apso tem maior predisposição. A CCS também é conhecida como síndrome do olho seco, e é uma enfermidade ocular grave que pode se tornar crônica e comprometer a visão do animal. É causada por deficiência quantitativa e qualitativa do filme pré-lacrimal (lágrima) e quando presente, causa ressecamento e inflamação crônica da córnea e da conjuntiva resultando em grande incômodo.

O pastor alemão é uma raça predisposta a Ceratite Superficial Crônica (CSC) ou também conhecida como Pannus, uma condição inflamatória ou imunomediada da córnea e conjuntiva que causa olho vermelho e déficit visual irreversível se não tratada adequadamente. Essa condição pode estar associada a dano celular da córnea por raios UV ou animais que fazem uso de drogas imunossupressoras.

Conjuntivite nos gatos

     Nos felinos, a conjuntivite é a doença mais comum e consiste na inflamação da membrana que reveste a superfície interior da pálpebra e a superfície exterior branca do bulbo ocular, ou seja, a conjuntiva. Os gatos possuem manifestações oculares que acompanham quadros de gripe e necessita de tratamento adequado rapidamente, pois em grande parte das vezes se trata de infecção viral, como é o caso do Herpesvirus, que fica latente no organismo do animal, podendo ser reativado em qualquer situação de estresse levando a quadros crônicos de olho seco, ceratites dendríticas e doenças metaherpéticas, como o Sequestro Corneano. É uma enfermidade que requer um atendimento especializado de um oftalmologista veterinário já que pode ser sintoma de outras doenças oculares mais graves. Portanto quanto antes tratar, melhor!

A idade do Pet também importa

     A idade mais avançada do pet também é um fator que pode contribuir diretamente para uma maior incidência de determinadas doenças oftalmológicas como a catarata, problema de alta manifestação em cães da raça poodle, daschund, schnauzer e alguns terriers (por questões genéticas), sendo muito comum também em cachorros e gatos mais jovens. A catarata está relacionada também a alterações metabólicas e endócrinas, como o diabetes nos cães.

A catarata é uma certeza na vida do cão diabético, portanto a avaliação oftalmológica precoce faz a diferença na vida desses animais, para que o oftalmologista possa identificar rapidamente e assim obter os melhores resultados no tratamento. É importante que esses animais sejam encaminhados pelo clínico geral ou endocrinologista já no momento do diagnóstico do diabetes. A catarata é definida como uma opacidade da lente em diferentes graus, e ela afeta a habilidade de enxergar dos animais podendo levar à perda total da visão devido a inflamação que essa lente opaca causa no olho, levando assim a um quadro grave de uma glaucoma secundário. O tratamento para essa condição é cirúrgico, pela técnica de facoemulsificação, com colocação de lente intraocular, igual ao que é realizado em humanos.

A SARDS (Síndrome da Degeneração Retiniana Súbita Adquirida) também costuma afetar cães de meia idade e a literatura ainda não é clara sobre a etiologia desta doença, mas há um forte indício de relação com doença endócrina como hiperadrenocorticismo (HAC). É caracterizada por perda súbita de visão e os sintomas incluem aumento de volume urinário e peso, sede em excesso e sonolência. Infelizmente não há cura, mas com a ajuda de um oftalmologista veterinário, o pet pode se adaptar melhor à nova condição.

Algumas outras doenças comuns são: episclerite, coriorretinite, iridociclite, vitreíte, neurite óptica, PRA (Atrofia Progressiva de Retina), distrofia e descolamento de retina e neoplasias.

Principais cuidados com os olhos do seu pet

     Um cuidado preventivo é a chave para estar sempre um passo à frente de qualquer doença mais grave que pode prejudicar a longo prazo a visão do seu pet de estimação. Por isso, é recomendável um check-up anual com o oftalmologista veterinário desde a idade mais jovem (consulta pediátrica) e um acompanhamento semestral no caso de pets mais velhos e raças predispostas a certas doenças oculares de caráter crônico, a fim de diagnosticar o quanto antes possíveis problemas de visão provocados pelo envelhecimento e pela raça ou animais jovens que sabidamente são predisposto a doenças oftalmológicas.

A maioria das doenças oculares possui sintomas em comum como coceira, vermelhidão, aumento da secreção lacrimal, surgimento de secreção purulenta e olhos inchados. Quanto às dificuldades em enxergar, os donos podem se atentar se os animais começarem a colidir com os objetos, apatia, se não acham os brinquedinhos pela casa ou mudanças de comportamento em geral. A presença de qualquer um desses sintomas deve servir de alerta para os donos procurarem um veterinário especializado em oftalmologia o quanto antes.

     O pet com doença ocular precisa passar por diversos exames para a conclusão do diagnóstico já que uma doença ocular pode ser sintoma de outra. Alguns deles são aferição da pressão intraocular, testes lacrimais, corantes específicos que revelam a integridade da córnea com a lâmpada de fenda, avaliação da retina por magnificação e registro fotográficos, exames de função da retina e ultrassom oculares e muitos outros.

É importante reforçar que as raças predispostas citadas tenham mais atenção dos donos quanto à avaliação oftálmica e sejam levadas com uma maior frequência ao oftalmologista veterinário para um diagnóstico mais criterioso. Quando diagnosticadas logo no começo, os tratamentos têm grandes chances de serem bem sucedidos e o seu pet não precisará sofrer com a perda da visão.

Créditos: https://iboev.com.br

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