
Dando continuidade à série: “50 máquinas que mudaram o rumo da história”. Vamos falar sobre o De Havilland DH 106 #Comet.
O De Havilland DH106 #Comet, desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial como uma aposta audaciosa na inovação tecnológica, entrou para a história como o primeiro avião comercial propulsionado por motores a jato. Em julho de 1949, foi executado o primeiro voo de teste do DH-106, marcando o início de uma nova era na aviação comercial. O plano era trazer a era do jato, iniciada poucos anos antes, durante a Guerra, ao mundo civil. Na época, grandes aviões a hélice, como o Lockheed Constellation, haviam inaugurado os voos civis transatlânticos – de forma barulhenta e em 15 horas.
Foram quase dois anos de testes até o primeiro voo oficial em maio de 1952: 23 horas bem-sucedidas e elogiadas pelos passageiros no trajeto para Johanesburgo, via Roma, Beirute, Cartum, Entebbe e Livingstone. Uma conquista estrondosa: 30 mil pessoas foram transportadas em seu primeiro ano. Sua entrada em serviço em 1952 prometia revolucionar as viagens aéreas em todo o mundo.
O Desafio do DH106 #Comet e as lições da inovação tecnológica britânica
Os britânicos são reconhecidos por suas inovações tecnológicas. Durante a Primeira Revolução Industrial, a Grã-Bretanha liderou o mundo em ciência e tecnologia, tornando-se uma superpotência econômica, militar e política durante a maior parte do século XIX. No entanto, a partir da segunda metade do século XX, embora engenheiros britânicos continuassem a desenvolver inovações revolucionárias, o setor empresarial do Reino Unido enfrentou dificuldades em capitalizá-las, permitindo que concorrentes estrangeiros colhessem os frutos, tanto em termos de reconhecimento, lucro e sucesso.
Um exemplo emblemático dessa dinâmica foi o desenvolvimento do primeiro avião comercial de passageiros a jato, o DH106 #Comet, que entrou em serviço pela companhia aérea #BOAC (predecessora da British Airways) em 1952. Apesar de seu sucesso inicial, toda a frota #Comet teve que ser retirada de operação apenas dois anos depois devido a uma série de acidentes catastróficos. Essas tragédias, no entanto, não encerraram a era da aviação a jato, como o desastre do dirigível Hindenburg havia feito para as aeronaves mais antigas. Em vez disso, esses eventos permitiram que os concorrentes da Grã-Bretanha, notadamente a Boeing, McDonnell DougO De Havilland DH106 #Comet, desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial como uma aposta audaciosa na inovação tecnológica, entrou para a história como o primeiro avião comercial propulsionado por motores a jatolas e Lockheed, tomassem a liderança em termos de tecnologia e comercialização, dominando o mercado de aeronaves comerciais a jato nas décadas seguintes. O caso do #Comet ilustra como grandes inovações tecnológicas nem sempre se traduzem em sucesso comercial imediato.
Diferentemente de outros modelos, o #Comet era capaz de voar em péssimas condições climáticas, já que atuava em altas altitudes, evitando áreas turbulentas e não precisava esperar em solo por melhores condições atmosféricas. Alistair Hodgson, curador do Museu de Aeronaves de Havilland, no Reino Unido, explicou: “O #Comet representou uma mudança dramática no desempenho e conforto dos antigos aviões movidos a pistão, que foram desenvolvidos ou convertidos em aviões bombardeiros ou de transporte. No entanto, entrou em serviço com graves falhas de design que não eram reconhecidas na época, simplesmente porque o modelo era muito avançado para o momento”.
Um audacioso salto tecnológico e as consequências da tragédia aeronáutica
O #Comet, projetado por Ronald Bishop (1903-1989), representou um ousado salto tecnológico ao adotar uma nova e relativamente não testada tecnologia de propulsão: o motor a jato. Menos de uma década antes, durante a Segunda Guerra Mundial, tanto os Aliados quanto as Potências do Eixo haviam começado a desenvolver caças-bombardeiros movidos a jato. Embora os alemães tenham sido os primeiros a introduzir essas aeronaves em serviço, sua chegada ocorreu tarde demais para reverter o curso da derrota nazista.
Em menos de 12 meses, a companhia perdeu três dos aviões. Os dois primeiros acidentes foram causados por erros dos pilotos. Já o terceiro, em maio de 1953, foi resultado da pressão sobre a fuselagem, que explodiu no ar. Ajustes no projeto foram feitos, mas o pior ainda estava por vir. Em janeiro de 1954, um #Comet se desintegrou e matou 35 pessoas a bordo. Três meses depois, outro acidente, com as mesmas características, acabou de vez com a reputação da companhia. Os #Comet foram retirados de serviço. A causa das explosões estava na estrutura da aeronave. O formato retangular das janelas panorâmicas não era ideal para um voo de grande altitude. A diferença de pressão causava fadiga no metal da fuselagem, provocando a desintegração. “Os pontos fracos eram os cantos das janelas, quadradas, e as aberturas na fuselagem, também quadradas, para as portas e antenas de rádio”, afirma Hodgson.
As investigações revelaram que os desastres foram causados pelo excesso de pressão na fuselagem, especialmente nas imediações de uma característica fundamental do modelo: as grandes janelas quadrangulares. Como resultado, a primeira geração de aeronaves #Comet foi retirada de operação, e o avião passou por uma reformulação completa. O novo modelo, o #Comet 4, foi fabricado tanto para uso militar quanto civil, entrando em serviço em 1958. A versão de passageiros finalmente foi aposentada em 1997, enquanto a versão militar foi operada pela Royal Air Force até 2011.
Apesar de o #Comet ter retornado com uma fuselagem reforçada e janelas menores e arredondadas, o dano à aeronave e à reputação da excelência tecnológica britânica já estava feito. A indústria aeroespacial britânica nunca mais representaria uma ameaça significativa para seus concorrentes norte-americanos. Alguns dos legados mais duradouros da tragédia do #Comet incluem o posicionamento das nacelas dos motores sob as asas, uma característica encontrada em todos os principais jatos comerciais de passageiros, bem como as janelas de formato arredondado.
Uma visão futurista da aviação que desafiou sua época
Ao avistar um #Comet movimentando-se no aeroporto hoje, não parece fora de lugar entre os modernos jatos comerciais de passageiros. O #Comet, que estabeleceu o padrão de design de aeronaves por décadas, era notavelmente avançado em relação a seus antecessores movidos a hélice e rivais. Os passageiros dos atuais aviões de médio porte, geralmente superlotados, com assentos apertados, corredores estreitos e mesas dobráveis instáveis, ficariam invejosos do espaço interno e das comodidades oferecidas pelo #Comet.
Apesar de ter dimensões semelhantes ao Boeing 737 e ao Airbus 320, que são comuns na era do transporte em massa e projetados para transportar mais de 100 passageiros, o design inicial do #Comet previa 11 fileiras com dois pares de assentos separados por um amplo corredor. No entanto, a #BOAC e a Air France optaram por uma cabine ainda mais espaçosa, com 36 assentos. Essa cabine totalmente pressurizada era consideravelmente mais silenciosa do que as de qualquer avião a hélice da época.
As instalações a bordo incluíam uma cozinha onde refeições eram servidas em louça de porcelana e talheres de metal, banheiros separados para passageiras e passageiros, além das icônicas janelas panorâmicas quadrangulares. Dispositivos de segurança, como balsas salva-vidas nas asas e coletes salva-vidas sob cada assento, também faziam parte do pacote de comodidades do #Comet.
O #Comet foi redesenhado com novas janelas, e o modelo 4, de 1958, operaria por 30 anos. A partir daí, concorrentes criaram seus próprios projetos. A de Havilland seria vendida em 1960, e a marca seria extinta em 1963.
Referências Bibliográficas
Como o modelo ‘#Comet’ se transformou em um trágico pioneiro na nova era da aviação. Aventuras na História. Acesso em 22 de out. de 2023.
CHALINA, Eric. 50 Máquinas que mudaram o Rumo da História.2014. Rio de Janeiro. GMT Editores Ltda. 2014.