
Paralelamente aos acontecimentos nas províncias do Norte, no início de 1823, veio do Rio de Janeiro uma convocação para a Assembleia Constituinte: as províncias deveriam enviar deputados para construir uma Constituição própria. Os representantes cearenses defenderam um projeto que desse mais autonomia às províncias, opondo-se, por exemplo, à proposta de extinguir as Juntas de Governo. Também foi denunciada a atitude autoritária do Imperador ao longo da Constituinte: José Martiniano discursou afirmando a desconfiança e o desgosto dos membros em relação ao que consideravam como despotismo de Dom Pedro. Tal situação gerava, aos olhos de Martiniano, grande insegurança. Ele também percebeu a insatisfação do Imperador com os rumos da Constituinte e chegou a ponderar, em 11 de novembro de 1823, se Dom Pedro desejava dissolver a Assembleia. Para o cearense, isso seria um tiro no pé: sem Constituição, não poderia haver sequer Império, pois, insatisfeitas, as províncias poderiam se separar.
Ainda na madrugada do dia 11, as ponderações do deputado Martiniano foram confirmadas: Dom Pedro cercou o prédio onde os constituintes haviam passado a madrugada e fechou a Assembleia. O episódio ficou conhecido como Noite da Agonia. Os cearenses não ficaram calados diante de tamanha afronta: em 9 de janeiro de 1824, os membros da Câmara de Campo Maior de Quixeramobim pronunciaram-se contra as decisões do Imperador, afinal, se ele queria ser imperador dos brasileiros, deveria ouvir o que seus súditos tinham a dizer. A insatisfação foi tanta que a câmara proclamou a República. A partir de então, Quixeramobim não respondia mais aos mandos do Imperador. A situação se agravou quando, em 25 de março de 1824, foi outorgada uma Constituição que não contou com a participação de nenhum deputado e, para piorar, Dom Pedro mandou ao Ceará um novo governador, escolhido a dedo para representar os interesses imperiais. Pôs fim à autonomia política das Juntas e mandou um recado: de agora em diante, as ordens imperiais se fariam cumprir, mesmo que com violência. Aí já era demais! O que era satisfação com a independência tornou-se uma ferrenha oposição às posturas autoritárias do imperador. Assim, das raízes revolucionárias já brotavam flores e frutos e, então, os ventos voltaram a soprar.
Fonte: http://projetorepublica.org