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Série Fatos Da Independência: Os indígenas cearenses no ciclo da independência

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Ações autoritárias, construção de uma Constituição infame, transformação de seus súditos em escravizados: assim os líderes indígenas denunciaram a atitude do recém-declarado Imperador do Brasil. Eles estavam presentes na sessão extraordinária sediada na Câmara de Fortaleza, no dia 26 de agosto de 1824, quando foi proclamada a Confederação do Equador no Ceará. Eles representavam as vilas de Arronches, Doure, Baturité, Monte-mor Novo e vila Viçosa, todas indígenas, e integraram o grupo de 400 homens que assinaram a ata da sessão, se opuseram ao centralismo de Dom Pedro e buscaram uma aliança entre as províncias do Norte para que estas tivessem mais autonomia. Os indígenas temiam, diante de tantas atitudes autoritárias, que o Imperador planejasse recolonizar tais províncias e, assim, submetê-los novamente ao regime de escravidão, como foi feito com seus antepassados. Além da sessão em Fortaleza, há registros de uma sessão de juramento feita à Confederação em uma vila indígena.

Pouco se fala sobre a participação dos indígenas no ciclo da #Independência do Brasil. Apesar de sua ausência em muitas narrativas históricas, eles não apenas participaram, como foram absolutamente centrais nas movimentações que ocorreram no Ceará entre 1817 e 1824, a exemplo do episódio narrado acima. Voltemos um pouco no tempo. O cenário, para eles, era tenebroso: os grandes proprietários de terras impunham-se em razão de seu poder econômico, explorando os nativos e sua força de trabalho. Além dos abusos físicos, os indígenas passavam por um processo de aniquilação cultural. Esse processou começou com as Missões Jesuítas que visavam catequizá-los. A legislação do Diretório dos Índios, sancionada em 1757, pregava a necessidade de ocidentalizar por completo os nativos. Um exemplo é o batismo feito com nomes portugueses, objetivando desvincular esses indivíduos de suas tradições ancestrais, e a instituição do trabalho obrigatório, para que os índios deixassem de ser, como interpretavam os portugueses, “preguiçosos” e “vadios”. Apesar de o Diretório ter sido revogado 30 anos depois, suas leis vigoraram no Ceará até 1845.

A Coroa e seus representantes, como foi o caso do governador do Ceará na época da Revolução de 1817, Manuel Ignácio de Sampaio, eram contraditórios em relação aos indígenas cearenses: referiam-se a eles ora como “índios aliados”, ora como “gentios bravos”. Essa oposição pode ser melhor entendida se olharmos para o par, também contraditório, de conceitos de “civilização” e “barbárie”. Ao tentar ocidentalizar os indígenas, a Coroa acreditava estar levando-os à civilização, entendida nos moldes europeus. Bem-educados e cristianizados, os indígenas aliados não eram ainda totalmente civilizados, mas estavam no caminho! Já os índios bravios… esses negavam os ensinamentos da cultura europeia e, portanto, permaneciam bárbaros, uma ameaça aos portugueses. De um lado ou de outro, era preciso tentar controlá-los, mas eles não estavam dispostos a abrir mão de seu protagonismo e seguiram agindo em prol de seus interesses.

Fonte: http://projetorepublica.org

Joice Ferreira

Colunista associada para o Brasil em Duna Press Jornal Magazine. Protetora independente e voluntária na causa animal.

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