
A atitude da cidade de Mato Grosso é sintomática de uma série de questões: em primeiro lugar, revela aspectos sobre a sua localização e sobre todas as dificuldades pelas quais passou. Diante do seu próprio isolamento em solo brasileiro, a comunicação com as províncias da América hispânica certamente foi grande, o que permitiu contatos comerciais e políticos. Assim, a província estava muito mais próxima dos Vice-Reinos espanhóis do que das províncias brasileiras. Além do mais, cientes da demora na chegada das notícias ao outro lado do Brasil, os mato-grossenses não hesitaram em tomar uma decisão em caráter de urgência – não haveria tempo hábil, afinal, para consultar Dom Pedro.
Em segundo lugar, mas não menos importante, a atitude da cidade de Mato Grosso denota que o recém-criado Império ainda padecia, e muito, de coesão e unidade. Se a distância justifica a ausência de contato entre Rio e Mato Grosso, a distância em objetivos e prioridades era maior ainda. Dom Pedro não deseja expandir seus domínios a qualquer custo e uma guerra por terras naquele momento não seria nem um pouco interessante para as relações exteriores do Império recém-independente. Antes de cogitar a expansão, era preciso assegurar o domínio do território que compunha o Brasil, tarefa que não seria nada fácil. Assim, mesmo após tanto tempo, os sertões do Mato Grosso pareciam separar, mais ainda, poder central e capital provincial, que se estranhavam mais uma vez, a despeito da adesão ao novo regime. Formalmente, o império existia. Efetivamente, nem tanto.
Fonte: http://projetorepublica.org