
As notícias da Revolução do Porto chegaram às cidades de Cuiabá e Mato Grosso no final de maio de 1821 e, em 3 de junho daquele ano, o governador-geral Magessi organizou uma cerimônia de juramento às bases da nova constituição portuguesa. Nas ruas, corriam boatos de que o documento traria mudanças para a organização da administração colonial. Um episódio acabou por inflamar as discussões que já tomavam conta da cena pública em Cuiabá e Mato Grosso: no dia 18 de agosto de 1821, chegou a Cuiabá o comerciante Antônio Navarro de Abreu, que trouxe notícias sobre o sucesso das decisões das Cortes de Lisboa na Bahia e em São Paulo. Em ambos os locais, houve adesão ao novo modelo de governo proposto: o de Juntas de Governo. Na Bahia, ainda em fevereiro de 1821, o governador-geral foi deposto e uma Junta, eleita. O mesmo correu em São Paulo, em junho de 1821. Dois dias depois da chegada de Navarro de Abreu, batia à porta de Magessi um grupo armado, que o depôs. Segundo documento sobre a deposição do governador-geral, a “Tropa da Primeira e Segunda Linha, o clero, a nobreza e o povo” haviam deliberado e resolveram estabelecer uma Junta de Governo. O governador não resistiu e, assim, a Junta estabeleceu-se em Cuiabá.
As localidades subordinadas ao distrito de Cuiabá apoiaram a Junta assim que souberam do seu estabelecimento. Ora, mas Cuiabá não era a sede da capitania, e sim a cidade de Mato Grosso. Para seus habitantes, não importava se Magessi havia decidido se mudar para Cuiabá, essa cidade não era capital. Não é nenhuma surpresa, portanto, que os habitantes de Mato Grosso não tenham gostado nem um pouco dessa história e tenham elegido, em 11 de setembro daquele ano, uma outra Junta de Governo, acusando a anterior de ilegitimidade. A Junta de Governo de Cuiabá não se deu por vencida. No dia 20 de outubro, em ofício argumentou sobre as vantagens de um governo estabelecido em Cuiabá, além do fato de sua adesão a Revolução do Porto ter sido pioneiro na capitania. Estabeleceram, também, um paralelo com a própria cidade do Porto que, mesmo não sendo capital, constituiu um governo revolucionário reconhecido como supremo em 1820. Ora, Cuiabá teria feito o mesmo em solo tropical. Os esforços não foram suficientes, e a capitania ficou em um impasse: nem Cuiabá, nem a cidade de Mato Grosso, arredaram o pé e, em busca pela legitimação, ambas recorreram a autoridades coloniais.
Fonte: http://projetorepublica.org