
Queremos, na prática, aquilo que dizemos querer na teoria? Uma reflexão seríssima para você e a sociedade na qual você vive. Analise essa história e verifique se a teoria condiz com a prática, em nossos próprios movimentos, grupos e ambientes.
A tradição ocidental é de que, em solenidade repleta de pessoas queridas, e com tudo preparado para o melhor, o noivo aguarda pelo momento inesquecível: a magnífica chegada da noiva.
Entretanto, em muitas outras culturas ocorre o inverso: a mulher é quem aguarda a chegada do noivo.
Conta-se que na cidade de Mitilene (Μυτιλήνη), havia um importante capitão chamado Andreas (Ανδρέας) e sua linda noiva, Larissa (Λάρισα).

O dia do casamento chegou.
Faziam parte das tradições locais, que eram muito consagradas e deviam ser seguidas à risca:
- A noiva é quem espera pelo noivo no altar.
- O noivo não pode se pronunciar durante o casamento:
- em todo o percurso de casa ao local da cerimônia,
- ao marchar lentamente no salão,
- até o momento em que a autoridade celebrante lhe passe a faixa de casado e lhe reabra a liberdade de voz em novo status;
- A mitologia permitia que dois oponentes disputassem a noiva.
- Havia vários protocolos e doutrinas locais. Um dos últimos dogmas determinava que ela poderia prosseguir com o noivo preferido e desejado, desde que ele ou sua família não traíssem, não violassem, nem prejudicassem o ritual da tradição em nenhum ponto, até que se encerrasse a cerimônia.
- Havendo quebra de algum dos pontos da tradição, a noiva deveria se casar com o segundo interessado, mesmo a contragosto.
Em Mitilene (Μυτιλήνη), o casamento dura sete dias de festividades e a cerimônia ocorre durante um dia inteiro de protocolos e solenidade oficial.
As famílias de Andreas (Ανδρέας) e Larissa (Λάρισα) não economizaram para celebrar o futuro brilhante daquele amor. Todos colaboraram para fazer a festa mais marcante da história de Mitilene (Μυτιλήνη).
O noivo também não poupou esforços para fazer o melhor, agradar a todos, familiares e amigos, além de encantar sua maravilhosa Larissa, e até erguer a autoestima de várias pessoas como nunca antes.
Tudo estava preparado. O dia chegou! A ansiedade tomava conta de todos, mas longe de se pensar que apenas Andreas e Larissa estariam emocionados. Cada participante, de alguma forma, mostrava especial nervosismo.
O noivo se preocupou com cada detalhe. A bem da verdade, durante anos ele lutou muito por esse sonho, e chegou a ter a própria vida em risco, por perseguições de inimigos da família de Larissa, que odiavam a possibilidade do casamento. Porém, ele continuou firme, se sacrificou e prosseguiu rumo aos propósitos do amor de ambos.
Tanto Andreas quanto Larissa fizeram questão de juntar economias e providenciar de tudo que fosse necessário para agradar amigos e familiares queridos. Até negociaram com lojistas da região para visitar cada uma das tias, tios, sobrinhos, padrinhos, e confeccionar trajes especiais para cada um.
O salão estava impecável, as roupas dos convidados, idem. Já havia equipe contratada para serviços de buffet (alimento para uma semana de festa), músicos, sacerdote para lhes consagrar a Deus, escribas oficiais para registrar o momento, etc. As melhores comidas e bebidas foram muito bem compradas.
O local da cerimônia ficava numa fazenda em Mitilene (Μυτιλήνη). com um maravilhoso salão para a solenidade, conjugado a outro espaço para festas de grande vulto. Havia hospedagem para todos, já que após a cerimônia, a festa se prolongaria por sete dias.
Durante a solenidade, repetindo, como tradição do local, a noiva espera no altar pela chegada do noivo.
Salão lotado. Nível de expectativa, de 0 a 100: todos a 200! Músicas sublimes são executadas. Quem poderia imaginar: foi contratado um coral, cujas vozes pareciam de anjos! O perfume da natureza se misturava ao cheiro do churrasco que já era preparado nas diversas áreas da fazenda. Muita carne comprada. Os nomes dos cortes eram outros, mas, com certeza, a picanha não era propaganda enganosa!
De repente, a música muda de tom, de andamento; o clima do local vai se transformando nos instantes de expectativa da chegada do noivo. Tensão geral!

Outro dos costumes em Mitilene (Μυτιλήνη) era de que um hermes (mensageiro) surgisse na entrada principal e, ao toque de clarins, indicava que a comitiva do noivo já estava nas imediações, dentro da fazenda. A tensão aumenta.
Alguns definitivamente possuem problemas com o “som do silêncio”. Não suportam ausência de barulhos, poluição sonora e informações audíveis. Alguns daquela região chegavam ao absurdo de preferir barulhos de desinformação, desde que pudessem ouvir algo, ainda que falso ou maléfico, mas jamais suportar o silêncio. Queriam qualquer coisa que lhes coçasse os ouvidos.
O burburinho começou. Alguns, mais sábios, até lembraram aos demais sobre histórias antigas, por exemplo, de como o profeta Elias, do Reino de Israel – de onde vieram muitos macedônios e gregos, em certa ocasião pensava receber mensagem divina através do barulho de três fenômenos da natureza, todavia Deus se revela a ele exatamente no oposto, quando ocorre um cicio tranquilo: o silêncio!
Diante do incômodo que o silêncio causava a alguns, atitudes estranhas começam surgir. Certos amigos e políticos da Acrópole passam instruções a fim de que os convivas se retirem da nave principal e se dirijam ao terraço de festas. Alegam que ali será o melhor lugar para verem o noivo chegando de longe, e, assim, eliminariam a ansiedade, e o noivo, segundo eles, certamente faria acelerar o cavalo e comitiva. Incrivelmente, muitos vão!
Do outro lado surge a voz de um antigo conhecido da maioria, gritando: “Eu tinha certeza de que Andreas iria deixar todos esperando feito idiotas, e que ele iria covardemente fugir no último instante. Eu só vim para ter certeza e dar risada de vocês!”
Alguns se levantam e dizem: “Fiquem todos aí. Eu vou pegar meu cavalo, ver em que parte da vereda Andreas está, e vou trazer ‘informações privilegiadas’ a vocês”. A maioria desses fazia questão de erguer cartazes dizendo “Acreditem em mim! Me sigam! Toque o sininho! Deixe seu like e comentário! Tragam o PIX de 2022 para hoje!” Era possível ver o desespero no semblante do povo, pedindo antieméticos uns aos outros.
Extremamente polido e com expertise de diplomata, Andreas não repeliu tais abordagens, que, por acaso, voltavam dizendo aos convivas coisas que ele jamais disse.
A Guarda Pretoriana, que atuava nesse tipo de solenidade, foi, a interesse do outro pretendente, deter os convidados que tiveram essa conduta inapropriada aos costumes do local e da época. Até parentes que não se viam há tempos deram abertura para chegada de maus elementos que fizeram o que era abominável na fazenda.
Incrivelmente esses eram os que mais diziam que estavam sendo perseguidos porque eram os maiores apoiadores do noivo, e defensores da noiva. Voltavam correndo e gritando pelos caminhos da fazenda “Andreas, Andreas, nos salve! Estamos sendo perseguidos porque te amamos e defendemos Larissa”. Por vezes, Andreas ajudou alguns desses ufanistas e exibicionistas tresloucados, mas não pode salvar a todos.
Outros mais se levantavam. Dessa vez um grupo de amigos dos parlamentares da Acrópole resolveram fazer uma rápida cartinha para Andreas, falando em nome de todos os convidados, sem considerar a vontade da maioria. Enviaram o escrito por meio de um dos mensageiros. O conteúdo dizia: “Damos alguns minutos para a Guarda Pretoriana resolver isso ou você mesmo, Andreas, se apresentar rapidamente, sob pena de colocarmos todos os convidados e toda a população de Mitilene de mal de você para sempre!” Óbvio e ululante, a cena se tornou em comédia; coisa de especialistas em sátira, em que o ator, com toda competência teatral, representa um médico em plena cirurgia, ou assume o papel de general, dando ordens estratégicas em diretrizes de guerra – muito embora certos generais também passaram a fazer o papel inverso, de comediantes de tragédia, causando escárnio e repulsa por parte dos convivas de quem recebiam, face ao esperado de seus ofícios.
Por serem gregos, embora sob domínio romano, havia um general chamado Heleno. Como era de se esperar, os penetras da festa, peritos em causar divisão, a cada momento criavam novos gritos de guerra e espalhavam rapidamente para prejudicar o histórico evento. Não tiveram pudores e não pensaram duas vezes para plantar minas terrestres lançar novo grito sedutor, do tipo: “Andreas, você está devendo; o nosso herói agora é o general Heleno!” Infelizmente, logo se espalhava entre o incautos, achando que estavam fazendo o bem ou que isso resolveria alguma coisa: gritos ao vento!
Nessa balbúrdia algumas personalidades famosas, embora não de confiança, se levantam e dizem que possuem interpretações especiais das leis de Mitilene (Μυτιλήνη), e instruem para que todos os convidados ficassem de pé. Diziam que isso faria com que o noivo fosse obrigado acelerar o trote ou galope dos cavalos da comitiva, nem que fosse por meio da Guarda Pretoriana. E muitos ficam de pé!
Outros se erguem para dizer exatamente o contrário, de que nenhum convidado podia estar de pé, porque era isso que estava errado e fazendo o noivo parar no caminho aguardando o informação de que seus convidados estivessem todos sentados, como que significando “eu autorizo” (que o noivo se case!) E muitos se sentaram por essa nova orientação!
O outro concorrente, interessadíssimo em possuir Larissa, pela beleza e pelos dotes, se chamava Kalamares (Καλαμάρι, latinizou-se para polvus ou moluscus). Além dele próprio, o grande problema era com quem ele andava. Amigos sinistros e malfeitores desde a infância, que nunca mudaram, como ocorre na “Parábola do Sapo e o Escorpi
ão“, de Dan Berg.
A cada vez que Andreas entrava num comércio, para fazer compras diferentes do comum, ou negociar com os banqueiros da época, ou ainda a cada entrega de materiais para a vultuosa festa, surgiam pessoas estranhando seus atos e fatos. Quando indagavam curiosos o que seriam aquelas medidas e ações tão incomuns, ele sorria e apenas dizia, repetidas vezes: “Preparativos, meu caro! São Preparativos!”
Faz-nos lembrar das palavras do Mestre: “Vinde, porque tudo já está preparado […] Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado… Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes” (Lc.14:17; Mt.25:34, 41-43)
Nesse instante, os amigos do segundo interessado se misturam sutilmente, começam causar contendas e dar conselhos ainda mais estapafúrdios. Infelizmente, muitos dos convidados que se diziam amigos ou parentes queridos, ainda que distantes, de Andreas e Larissa, lamentavelmente ouviam a cada uma dessas vozes errantes que se levantavam, e as seguiam, em vez de imediatamente se erguerem contra elas e zelarem pelo silêncio necessário, e passo a passo ao rito do casamento.
Alguns penetras, facilitados pelos próprios parentes e amigos, começam derrubar garrafas, vasos e objetos no salão ao lado. Na verdade, se mostraram vândalos e invadiram. Colocaram fogo no paiol. O susto atinge a todos no salão principal da solenidade. Rapidamente corre o assunto de que amigos de Andreas e cidadãos de bem de Mitilene absurdamente são os responsáveis, e o fazem querendo prejudicar Larissa.
O juiz, amigo de políticos e jornaleiros presentes, diz que vão começar retirar da festa e prender os culpados da família de Andreas ou Larissa. De fato, começam prender e prejudicar muita gente da festa. Logo se verifica que tais altercadores são todos amigos de Kalamares e autoridades, misturados a salteadores, líderes e interessados no mesmo esquema.

Para surpresa (ou não tão surpresa) assim que o silêncio e ordem parecem retornar favorecendo a continuidade do evento, pessoas que se diziam amigos de Andréas e Larissa começam reclamar. Uns dizem que estão com fome há muito tempo, outros que precisam beber algo forte, outros que não têm o dia todo para esperar a boa vontade do noivo ou autoridades para encerrar logo a cerimônia; outros ainda dizem que a solenidade está uma droga e que, se fossem eles, fariam tudo de modo diferente. E o mal estar atrai mal estar. Um abismo chama outro abismo. Distraídos e com esse espírito, mais confusão começa.
Na tradição local, há mensageiros indo e vindo para tornar a cerimônia ainda mais marcante. Com isso, Andreas fica sabendo dos desarranjos e comportamentos inadequados de seus próprios convivas, bem como das reclamações e críticas absurdas até dos parentes.
No ritual, mesmo se deslocando em comitiva, Andreas não pode se pronunciar falando a qualquer um. Ele só pode se comunicar por escrito ou pelos mensageiros em atos oficiais.
Profundamente entristecido com as notícias que chegam, Andréas desce do cavalo e abre os braços para uma garotinha que corre ao seu encontro.
A Guarda Pretoriana tenta dissuadir e afastar a menina e familiares que acompanham a comitiva. Andreas diz (com a Guarda e mensageiros oficiais ele pode falar) para que deixem vir a ele todas as crianças, pois não são elas os problemas, mas, sim, os adultos; e acrescenta que se eles não se transformassem na simplicidade de um infante, jamais poderiam imaginar questões do reino maior e divino.
Autorizado por olhares e gestos da mãe, Andreas pega a menina no colo. Rompendo protocolos, mesmo sendo ele a celebridade, e autoridade no local, por ser capitão e noivo, ainda assim ele submete sua cabeça às mãos da menina, que ora por Andréas, por Larissa e para que todos sejam felizes. Valentina essa menina!
Ao colocar a garota no chão, Andreas escreve um rápido bilhete, que envia pelas mãos da garota, mas que não deixa de passar pelas autoridades e mensageiros oficiais, obviamente para evitar ainda mais confusão. Encerra-se a cena com a abertura do bilhete escrito e lido em público: “Vocês realmente querem que o casamento de realize?”

Era tarde demais. Muitos já haviam se desencaminhado, dado abertura para infiltrados e prejudicaram a festa que tinha tudo para ser a mais linda do século, para alegria da maioria. Andreas decretou que nenhuma outra evolução ou parte da história fosse contada até que cada um, individualmente, respondesse à pergunta do bilhete -“Vocês realmente querem que o casamento de realize?” -, em seu coração, bem como por atos, espalhando esta mensagem a todos.

Em seguida, Andreas se volta para sua comitiva, guardas e demais amigos que o acompanham e diz para que nunca se esquecessem a lição sobre como se vence as batalhas mais difíceis. Enfatiza de que essa estratégia deveria ser de todo o povo, não apenas de algumas famílias ou indivíduos mais fervorosos e fiéis, porém, todos sofreriam, até que tal tática de guerra fosse marca registrada do coletivo:
Uns confiam em carros (material bélico) e outros em cavalos (acordos políticos e generais), mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus (todo poder emana de Deus, compartilhado ao povo, que o exerce DIRETAMENTE sobre seus representantes eleitos, e acima de qualquer autoridade não eleita – que se escreva e que se cumpra aquilo que seja a vontade do povo, em primeiro lugar, depois de congressistas, nunca na ordem inversa).
Uns encurvam-se e caem (desanimam ou tentam desanimar outros, por meio de narrativas antibíblicas de transferir a Deus as responsabilidades sociais e políticas, individualmente e enquanto grupo – εκκλησία), mas nós nos levantamos e estamos de pé.
Salva-nos, Senhor; ouça-nos o rei quando clamarmos (apesar dos infiltrados, dos que lhes abrem espaço entre nós, da infantil confiança no Congresso, e, nunca é demais repetir, dos que transferem, em nome de “espiritualizações” por conveniência, os deveres humanos e sociais ao Senhor).
Sl.20:7-9 – Mizmor de David – •Δαn βεrg• glosa
Andreas encerra suas palavras dizendo que enquanto seu próprio povo tivesse soluções para tudo, com base em sua própria sabedoria, força, depositando total confiança coletiva em acordos entre políticos, militares, autoridades ou líderes autoproclamados, jamais haveriam de experimentar vitórias por mãos divinas, uma vez que se portavam (embora não confessassem) como autossuficientes ou estultos, ou ambas as coisas juntas.
De fato, o Deus do Andreas desta parábola sempre teve poder e condições de realizar tudo sozinho. É claro que Ele é Soberano! Acontece que Ele decidiu compartilhar deliberações com seres humanos, em que seu povo faz aquilo que seja natural, enquanto Ele faz o sobrenatural, numa maravilhosa parceria. Transferir as atribuições humanas a Deus nunca foi bom negócio, e nunca deu certo, ao longo de toda a história escriturística. Os grandes heróis levantados como líderes para transformações sociais sempre tinham que, junto ao povo, cumprir sérios desafios, rituais para demonstração de fé e responsabilidades claras no contexto em que viviam, para que, somente então, desfrutassem de vitórias e conquistas. São eles que nos deixam a lição em suas próprias vidas, em tudo que foram e fizeram:
Orar sem marchar é de Deus o ouvido insultar!
•Δαn βεrg•