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A parábola de Platão e o professor universitário

UMA VIAGEM NO TEMPO, PARA O FUTURO, É DESAPONTANTE POR CONSTATAR INCOERÊNCIAS, HIPOCRISIAS E INVOLUÇÕES DO PENSAMENTO DA MAIORIA

Como seria a conversa de um professor universitário atual com Platão?

Quando há imposto sobre o salário, o justo pagará mais e o injusto menos sobre o mesmo valor da renda.

In Plato, The Republic – Benjamin Jowett. New York: Cosimo Classics, 2008, p.18. Tradução de Dan Berg, adequada aos significados em língua portuguesa)

Da série Parábolas da vida

Havia um jovem chamado Platão, filho do senhor Aristan e dona Periktíone, de Atenas.

Seu nome, em grego, era conhecido pela forma completa Πλάτων, γιος του Αριστάν της Αθήνας. Latinizado (caracteres transliterados), é Pláton, gios tou Aristán tis Athínas. Vertido ao português, era exatamente a forma como o chamavam, descrito acima, Platão, Filho de Aristan de Atenas. Usavam muito essa forma de referencial familiar, lugares e profissões para identificar pessoas.

Seus irmãos eram Glaucon, Adeimantus e uma moça, Potone.

Segundo Cláudio Eliano, Periktíone carregou Platão quando Ariston sacrificava às Musas (de onde se originou o termo música) ou às Ninfas, deusas das artes. No momento em que eles estavam realizando seus ritos, um enxame de abelhas pousou na boca do menino Platão, quando este dormia. Tiveram esse episódio como indicação de sua futura inteligência e doçura de língua, contra a qual, poucos ousariam desdizer, e pela qual o mundo haveria de conhecer a forma de se propor critérios para garantir veracidade de argumentos.

Platão foi aluno de Sócrates, e sofreu muito com as perseguições que causaram a morte de seu mestre.

Podemos facilmente aceitar quando uma criança tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.

Platão

Conta-se que Platão foi enviado da Grécia, do século IV a.C., de Atenas para o Brasil, no século XXI, por meio de um vórtice temporal.

Ele cai em São Paulo, mais exatamente na Avenida Paulista, defronte ao MASP, bem no meio de um manifesto. Olha para um militante e inicia uma conversa:

– Olá excelente rapaz!  Do que se trata toda essa gente reunida?

– Então, velho desinformado. “Cê” não tá vendo? Estamos lutando contra a elite, por justiça!

– Sim, eu realmente devo ser um terrível desinformado. De fato, não sei o que é isso. Contudo, estou muito feliz de encontrar você, que realmente parece saber! Peço que me ensine. É possível?

– Sim claro, sou Professor de História da USP. Tem muita coisa que você precisa aprender!

– Realmente parece ser um grande dia, ó excelente rapaz! Finalmente encontrei alguém sábio que me ensinará! Primeiro gostaria de entender melhor os termos conforme utilizam, ou seja, que é a ELITE, depois o que é JUSTIÇA e, por último, qual é a APLICAÇÃO DE JUSTIÇA pela qual estão lutando. Pode ser nessa ordem?

– Sim, isso é fácil!

– Perfeito! O que é ELITE?

– A elite são os ricos, que tem muito dinheiro, muitos bens.

– Então o critério para discernir a elite, é a quantidade de dinheiro, de bens que alguém possui, certo?

– Sim, é esse mesmo!

– E a partir de qual ponto um homem é considerado rico, participante da elite?

O que o homem pode fazer de melhor para a sua felicidade é pôr-se em harmonia constante com Deus por meio de súplicas e orações.

Platão
Papyrus d’Oxyrrhynque P. Oxy. LII 3679, IIIe siècle, contenant des fragments de La République de Platon

– A classificação disso é por meio de classes sociais, que são A, B, C, D, E e F! A classe A é quem tem mais, e vai diminuindo para quem tem menos, até a classe F, que é praticamente miserável e não tem nada. É por eles que lutamos!

– Certo. E como eu posso identificar quem é a elite, nesses termos, códigos e letras?

– Elite são as classes A, B e C. Mas é só ver quem ganha mais de R$3.000,00 por mês, que já é elite!

– Entendi, e os outros todos não são elite, certo?

– Sim, o critério é esse.

– Quem ganha mais de R$3.000,00 por mês é a elite. E a elite é malvada, contra a qual vocês lutam, certo?

– Certo!

– E quem ganha menos de R$3.000,00 por mês não é da elite, e não é malvado, correto também?

– Sim, é exatamente isso! O senhor está aprendendo muito bem, qual seu nome?

– Meu nome é Platão, filho de Aristan de Atenas, excelente rapaz!

– Certo, seu Platão! Está aprendendo muito bem.

– Você, é formado em uma universidade, não é isso?

– Sim! Sou inclusive professor! Da USP como eu disse!

– Que dia realmente maravilhoso para mim, excelente rapaz! Encontrei finalmente um sábio! Quanto ganha um professor da USP?

– Eu ganho R$10.000,00, mais uma lista de benefícios, mas é muito pouco.

 Então, você é da elite e é malvado?

– Não… é que… olha… eu luto pelo povo e… eu quero só o bem deles!

– Mas você disse que o critério era esse…

O juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo as leis.

Platão

– Eu sei, parece estranho, mas são nossos representantes que vão acabar com essas diferenças sociais!

– Estou me esforçando para compreender… E quem são seus representantes?

– São os políticos!

– Quanto ganha um político hoje, rapaz?

– Depende. Deputado ganha uns R$40.000,00 por mês, mais a lista de benefícios. Se for senador, com as vantagens pode chegar a uns R$100.000,00.

– E quantos deputados e senadores vocês têm?

– Nossa república é séria. Temos 81 senadores e, sei lá, uns 500 deputados federais, fora centenas de estaduais, vereadores, etc.

– Pela matemática, vocês sustentam 81 reis, mais cerca de 500 famílias reais, e outras centenas que você não consegue calcular?

– Esse papo de família real é coisa de imperialista, já passamos dessa época. E o senhor já está começando me irritar.

– Calma, sábio professor, são apenas perguntas. Então, pelos valores do critério que você me informou, esses políticos também pertencem à elite?

– Sim. Mas aqui não sustentamos uma família real. E são eles que vão fazer o bem para o povo!

– Mas, você me disse que a elite só faz o mal, e que o critério para isso é o de quem recebe mais de R$3.000,00 por mês. LOGO, tanto você quanto seus representantes são da elite. LOGO, devo supor que são maus, segundo suas próprias palavras e critérios. Ou será de outra forma?

– Estou desconfiando de que você é um infiltrado, seu velho nojento! Como pode duvidar do que estou dizendo e ainda me acusar?

– Eu estou tentando aprender. Você disse que me ensinaria! Mas pela lógica e critérios, você é um homem mau e seus representantes também são maus. Ou esse critério estará errado?

– Eu não sou mau! Todo companheiro é inocente e deve ser livre, portanto, elegível! Que perguntas fora das narrativas são essas, seu velho estranho?

– Chama-se lógica, rapaz, SILOGISMO, que estou tentando ensinar em minha humilde academia. Eu só estou examinando seu próprio critério. Se o critério estiver certo, você e seus representantes são maus. Se forem bons, então é o critério que está errado. Premissa um, mais premissa dois, resultam em um LOGO. A lógica não deveria ser essa?

– Está bem, talvez o critério esteja errado, porque, afinal, eu sou um homem bom, e meus representantes também são bons, e estou lutando pela justiça, pelo bem, por algo bom! E o senhor está me atrapalhando na manifestação, deu pra perceber?

– Muito bem rapaz! E qual é a LUTA de vocês?

– Lutamos contra os maus. Quer dizer, a elite!

– Nos critérios que você me apresentou?

– Sim!

– Ora, estão lutando contra si mesmos?

– Não! Bem, talvez o critério esteja errado mesmo… não sei mais!

– Mas, me diga, o que é JUSTIÇA?

– Justiça é que todos ganhem o mesmo salário por mês, para não haver desigualdade, entendeu?

– Mesmo os que não trabalham?

– Não, só os que trabalham, é claro…

– Então essa JUSTIÇA não é para todos? Concorda?

– Bem, quis dizer todos os que trabalham. Os que não trabalham ganham bolsas. São bolsas de assistência social, de vários tipos. Essas bolsas existem para que eles não fiquem sem nada.

– As bolsas são mensais e possuem valores como um salário?

– Sim! Recebem uma vez por mês!

– E de onde sai o dinheiro para pagar essas bolsas, rapaz?

– De impostos! Nós pagamos, para ninguém ter esmolas do governo. As pessoas trabalham e pagam impostos, e o Estado redistribui a renda, e paga as bolsas.

– Então quem paga as bolsas é quem trabalha! E é JUSTO quem não trabalha receber salário por não trabalhar, e quem está trabalhando pague salário a quem não trabalha? É assim que funciona?

– Platão, você está me deixando confuso…

– Apenas me responda, “sábio professor”, a JUSTIÇA consiste em pagar salário para quem não trabalha, através do suor de quem trabalha, é isso?

– Nãoooooo! É redistribuir a rendaaaaaaa!

– Mas, no final da sua redistribuição, é isso que acontece. Ou não?

– Sim, é… mas… Eu sei, tudo parece estranho, mas, quando implantarmos o comunismo e socialismo, tudo vai ser diferente, tudo vai ser justo e ninguém vai ser miserável, não vai dar pra você entender agora… a elite é poderosa e controla tudo!

– Rapaz, até agora tudo que você me disse foi contraditório, não?

– Sim, foi! É que você precisa esperar o comunismo e socialismo acontecer aqui, aí sim tudo vai fazer sentido!

– Ora rapaz, então esse tal comunismo e socialismo, devem ser maravilhosos! Em que lugares já ocorreu?

– Cuba, Coreia do Norte, Rússia, Alemanha Oriental…

– Então, esses lugares devem ser o paraíso! Conte-me como são!

– Olha, as coisas não vão tão bem. Alguns lugares já abandonaram o comunismo e socialismo, mas os outros continuam na luta!

– Rapaz, que surpresa! Por que afinal alguns abandonaram um sistema tão maravilhoso?

– Não deu certo, mas continuamos tentando! É tudo culpa do capitalismo, que boicota a gente!

– E nos outros lugares onde não abandonaram o sistema, como estão?

– Cuba e Coreia do Norte continuam comunistas!

– Que maravilha! E como são estes lugares? Estão bem? Todos são prósperos? Não existem mais classes?

– Pra falar a verdade, não estão bem, não. Cuba e Coreia do Norte estão passando fome, mas isso é por culpa do capitalismo!

– Ora, mas um modelo tão bom, pelo qual vocês lutam, não faria apenas o bem, a justiça, prosperidade e eliminação de desigualdade de classes?

– É que os dirigentes não fizeram o comunismo e socialismo como deveria ser feito. Eles deturparam, fizeram outra coisa…

– Mas você me disse a pouco que eles eram bons. Como deturparam, não fizeram direito, não foram justos?

– Eu disse, mas… bem, nunca se sabe!

– Será que talvez vocês não estejam errados?

– Talvez, senhor Platão…

– E por que esses países têm dirigentes?

– Eles têm poder militar, e muito capital…

– Ora, você me disse que não haveria classes sociais…

– No comunismo existem apenas as classes política e proletariado!

– Então ainda existem as classes, correto?

– Não tenho como discordar agora…

– Meu rapaz, não me parece que você esteja lutando por algo bom, pois seus exemplos foram todos maus, e não me parecem confiáveis seus representantes como bons, pois sempre terminam por trair o povo. E mesmo seus critérios não me parecem bons, pois não se sustentam agora, nem nos exemplos que me forneceu.

– O senhor está me deixando sem respostas. Eu preciso estudar mais…

– Eu agradeço pela conversa, mas vou continuar procurando alguém realmente sábio, que possa me ensinar esses conhecimentos.

Um grupo de garotos se aproxima e cumprimenta o professor: “e aí, ‘psor’?”

– Quem é ele, ‘psor’?

– É um velho cringe, chamado Platão, que eu estava ensinando, mas ele quer dar uma de engraçadinho para tentar me confundir…

– Por que c ta confuso, ‘psor’?

– Ele discordou de algumas ideias minhas, e eu não consegui sustentá-las…

O Grupo de garotos grita:

– ATENÇÃO TODO MUNDO! ESSE VELHO É FASCISTA! RACISTA! HOMOFÓBICO! MISÓGINO! SEXISTA! NAZISTA! GENOCIDA! VAMOS QUEBRAR LOJAS DE CAPITALISTAS DA SUPREMACIA BRANCA! NÃO PASSARÃO! TODOS GRITANDO: “ELE NÃO! ELE NÃO! ELE NÃO!”

Após levar cuspidas e apanhar, Platão saiu ferido e desapareceu no vórtice temporal, voltando para Academia Platônica, em 385 a.C., em Atenas.

Afresco renascentista ‘Escola de Atenas’, do pintor italiano Rafael Sânzio (Platão e seus alunos, entre eles, Aristóteles)

Na ágora, ao encontrar seus alunos, Platão diz que esperava mais sabedoria dos manifestantes universitários que encontrou na viagem do tempo ao século XXI.

Contou também que, de modo muito bizarro, os manifestantes, além de permeados de sofismas e incoerências, elementos típicos aos “hipo+critas”, apesar disso, aparentavam vaga ideia sobre História e o peso da cultura helenística grega, pois a única coisa compreensível entre os berros era o aumentativo: “Helenão, Helenão, Helenão!”.

Por sua vez, o professor da USP prossegue em sua luta, mas, a cada vez que vê um velho calvo de barba comprida, começa se borrar de medo, com a desconfortável sensação de que seu cérebro escorre pelas pernas.


Muitos odeiam a tirania apenas para que possam estabelecer a sua.

Platão

֍

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⁞Ð.β.⁞


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