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Gilles de Rais – De Herói a Vilão

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A sabedoria da cultura popular nos ensina de forma satírica que, ou você morre como herói, ou vive o suficiente para se tornar vilão. Muitas vezes a vida imita a arte, essa também pode ser uma via de mão dupla. Pois, muitas obras ficcionais têm como base acontecimentos ou histórias reais que lhe servem de inspiração, como é visto na aclamada série produzida pelo canal pago HBO, nominada Game of Thrones, onde o infame massacre do Casamento Vermelho, foi claramente inspirado em um evento real conhecido como Black Dinner.

Neste sentido, um personagem histórico, que inspirou terríveis histórias de terror, e que passou de herói militar a assassino demoníaco foi o Barão Gilles de Rais, herói de guerra que lutou ao lado de Joana d’Arc, pela França, na Guerra dos Cem Anos.

Suas barbaridades serviram de inspiração para que o cronista Charles Perrault, pudesse escrever o conto de fadas do Barba Azul, uma história que narra a trajetória de uma mulher curiosa em saber o destino das esposas anteriores de seu marido, ao se ver afastada do nubente descobre que em um quarto no qual o marido lhe proibira o acesso, estavam os cadáveres das desafortunadas antecessoras.

Mas, longe da ficção, a história de origem de Gilles, muito se assemelha a história de origem dos heróis. Desde a terna idade se destacou por suas habilidades em cavalaria, além de sua erudição, sendo fluente em Latim desde a infância. Por seu nascimento em uma família nobre, seu casamento com Catarina de Thouars da Bretanha arumado por seu avô que lhe aumentou consideravelmente a sua fortuna e somado as suas aptidões militares formidáveis, sua ascensão política foi avassaladora, tendo aos 25 anos de idade alcançado o título de Marechal da França. Dono de grande fortuna e poder, tornou-se membro íntimo da corte do Delfim.

Quando uma jovem camponesa iletrada de 17 anos, afirmando ouvir a voz de Deus, declarou profecias sobre o destino da França e o monarca que a governaria, Gilles, de boa fé, abraçou a sua causa. E ao lado da Donzela de Orleans travou inúmeras batalhas, que pavimentaram o caminho ao trono para Carlos VII, Este foi o momento de maior alegria em sua vida como relatou a seus acusadores. Lutar ao lado de Joana d’Darc elevava sua alma.

Ela o preenchia, fazia-o sentir-se próximo de Deus, mas, sua alegria durou pouco, pois, seus caminhos se distanciaram após a coroação do rei e em caminhos opostos a sorte se virou contra a Donzela de Orleans, que foi capturada em Borgonha, uma derrota muito conveniente para o rei Carlos, uma vez que a influência de Joana contrastava a sua que por este motivo não despendeu grandes esforços para liberta-la, ignorando as súplicas de Gilles. Como consequência dessa negligência, a donzela foi condenada à morte por heresia aos 19 anos, sendo queimada viva.

Depois da morte daquela que Gilles considerava sua deusa, foi o início de sua decadência, devido a rigidez de sua personalidade dada a violência, somada ao endurecimento do campo de batalha, a sua crueldade não teve mais limites, uma vez que sua bússola moral virará cinzas.

Sentindo-se desgostoso com a política, abandonou sua carreira militar e adotou uma vida reclusa em suas propriedades. Para tentar preencher o vazio deixado pela Donzela de Orleans, passou a promover suntuosas festas, rapidamente dilapidando sua fortuna. Em decadência financeira, passou a viver cercado de supostos feiticeiros, alquimistas e pessoas de má índole.

Suspeita-se que seu intuito era de multiplicar sua fortuna através dos segredos herméticos da Alquimia. Existe também uma teoria mais absurda de que sua intenção era de trazer de volta a vida sua amada donzela através de necromancia. Sendo boatos ou não, os relatos apontam que durante este período várias crianças dos arredores das propriedades do marechal começaram a desaparecer.

Com fortes indícios que levavam apontavam para Gilles o desaparecimento das crianças, somado a falta de animosidade deste para com a Coroa, o marechal foi preso em 1440 e após ser submetido aos procedimentos processuais da época que incluíam suplicio corporal, que no caso de Gilles não foi necessário, pois, o marechal confessou espontaneamente ter assassinado, abusado sexualmente e praticado atos de magia negra com um número que, de acordo com alguns autores, varia entre 140 a 200 crianças. O réu confesso, juntamente com dois cumplices, foi condenado à morte por enforcamento e posterior incineração de seus cadáveres. porém, antes de ser executado clamou a multidão por clemencia à sua alma, pois arrependia-se de suas atrocidades, pedindo que seus restos mortais fossem depositados no Mosteiro de Notre-Dame des Carmes.

Após sua morte, houveram várias controvérsias acerca de sua acusação e julgamento, mas, sendo verdade ou não, o fato é que na realidade ou na ficção, Gilles de Rais passou de herói de guerra à serial killer, tudo isso porque não morreu como heróis, mas, viveu o suficiente para deixar de ter serventia a seus benfeitores, que na História personificam-se na figura do rei no qual, tanto Gilles quanto Joana d’Arc auxiliaram a ascensão, e que depois que este galgou uma posição estável, tratou de descartá-los.

A lição que se toma com essa história é que, quando se deixa de propiciar benefícios para muitas pessoas, muda também a forma no qual somos vistos por elas. Por isso, deve-se observar o comportamento das pessoas no qual nos cercamos a fim de evitar os vínculos nocivos de pessoas que se aproximam somente objetivando benesses de interesse próprio.

Marcos Ferreira

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Marcos Ferreira

Colunista associado para o Brasil em Duna Press Jornal e Magazine, reportando os assuntos e informações sobre atualidades sócio-políticas e econômicas da região.

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