Acharam que eu fosse levantar cartaz vitimista só porque sou um preto e que conseguiu se formar na faculdade? Coitados!
Cheguei até o fim graças ao meu esforço e determinação e não graças a quantidade de melanina na minha pele, a textura do meu cabelo, a etnia que pertenço e etc. No meio do caminho tranquei a matrícula, mas, corri atrás do prejuízo e agora conclui esse curso.
Eu ralei muito para chegar até aqui, assim como meus amigos brancos também ralaram. Eu tive colegas brancas mães, que saiam do trabalho e corriam para faculdade, cansadas, exaustas, mas estavam lá lutando pelo futuro delas, assim como as minhas colegas negras que estavam nessa mesma condição. Eu tive amigos brancos que deixavam de comer um salgado na cantina da faculdade, para poderem economizar para a passagem de volta para suas casas no fim das aulas, assim como meus amigos negros também faziam isso. Eu vi colegas, brancos e negros, trancarem suas matrículas como eu fiz porque estavam passando por um período economicamente difícil, ou que reduziram o número de disciplinas no semestre para poderem economizar e não deixar de estudar.
E agora, quando finalmente termino essa bendita faculdade, vir e levantar cartaz com dizeres puramente vitimista, para agradar outros irmãos de cor, seria uma ofensa à todos os meus colegas que trilharam esse caminho comigo, e lutaram na faculdade as mesmas lutas que eu lutei.
Além disso, nenhum negro é proibido no Brasil de fazer faculdade. Não sabem como fazer? Informem-se! Se esforcem! Corram atrás e lutem pelos seus objetivos. Ou vocês acham que as ONGs que dizem lutar pelos direitos dos negros vão lhes dar uma vaga numa faculdade só porque vocês são pretos?
Jessézinho depois da colação e de posse do CRP será enfim, um psicólogo. Aplausos para o meu esforço e minha determinação! Não para minha cor!
Por Jessé Fëanaro Ancalímon
Jessé Fëanaro Ancalímon, 33 anos é carioca, estudante de psicologia, monarquista.