
O Príncipe dos Poetas, o Apollo Português, a Honra de Lisboa, Honra e Glória de Hespanha, o maior poeta da história da literatura lusófona: Luís Vaz de Camões!
Luís Vaz de Camões é considerado o melhor escritor da língua galego-portuguesa e um dos maiores poetas da literatura universal. É ele o autor do poema épico Os Lusíadas, o mais importante da literatura portuguesa e uma das obras-referência da lusofonia.
Camões fazia parte de uma família da pequena nobreza cujas origens remontam à freguesia de Camos, concelho de Nigrám, no sul da Galiza, da mesma família do trovador galego Vasco Pires de Camões.
Há algumas inconsistências na biografia de Camões como a data e local exato de seu nascimento, sua vida pessoal e sobre se ele teria ou não freqüentado a Universidade de Coimbra. O certo é que era próximo da Família Real portuguesa e freqüentava a corte de Dom João III. Nos estudos tinha a ajuda do Tio Bento, que era chanceler da Universidade de Coimbra. Também não há dúvidas quanto ao fato de ele ter sido militar, ter ficado cego de um olho em uma batalha, ter ido para África e Ásia, ter contado com a proteção do Rei Dom Sebastião e ter passado por vários momentos de pobreza extrema e sofrido injustiças.
Sobre sua pessoa, há registros datados de 1550 em documento que o alista para viagem à Índia:
“Luís de Camões, filho de Simão Vaz e Ana de Sá, moradores em Lisboa, na Mouraria; escudeiro, de 25 anos, barbirruivo, trouxe por fiador a seu pai; vai na nau de S. Pedro dos Burgaleses… entre os homens de armas”.
O escritor Diogo do Couto registrou por escrito a ocasião em que encontrou Camões em precárias condições após ter sido enganado e roubado:
“Em Moçambique achamos aquele Príncipe dos Poetas de seu tempo, meu matalote e amigo Luís de Camões, tão pobre que comia de amigos, e, para se embarcar para o reino, lhe ajuntamos toda a roupa que houve mister, e não faltou quem lhe desse de comer. E aquele inverno que esteve em Moçambique, acabando de aperfeiçoar as suas Lusíadas para as imprimir, foi escrevendo muito em um livro, que intitulava Parnaso de Luís de Camões, livro de muita erudição, doutrina e filosofia, o qual lhe juntaram (roubaram). E nunca pude saber, no reino dele, por muito que inquiri. E foi furto notável.”(*)
Segundo consta Camões tinha um grande ressentimento dentro de si e, por várias vezes, queixou-se de não receber a devida atenção: ele era um poeta, um escritor, conhecedor de línguas, história, mitologia, literaturas clássica e moderna, filosofia e cosmologia, tinha muitas obras escritas; no entanto, não tinha reconhecimento nem prestígio. O único que demonstrara alguma consideração e lhe estendera a mão foi o Rei Dom Sebastião, que desapareceu após combate algum tempo depois. Na verdade, estudos demonstram que a obra de Camões só foi reconhecida após a sua morte. Foi postumamente que Camões ganhou prestígio, gradativo e crescente e, hoje, ele figura entre os grandes poetas da tradição ocidental, um verdadeiro vulto literário. Até mesmo a Espanha aplaudiu e vibrou com os Lusíadas, palavra que estava totalmente relacionada ao nome romano Lusitânia, a terra dos lusos, dos lusíadas. O escritor madrileno Francisco de Quevedo chegou a declarar que Luís de Camões era a “honra e glória de Espanha” e o escritor Trajano Boccalini (Boccalino) que “Camões era o melhor poeta de Espanha, só comparável ao Tasso, a Vergílio e a Homero”. O Rei Dom Filipe II da Espanha, na época também Rei de Portugal, foi quem concedeu a Luís de Camões o título honorífico de “Príncipe dos Poetas de Espanha”, o que foi impresso em uma das edições de Os Lusíadas.
Camões na visão de importantes escritores:
August-Wilhelm Schlegel: Camões, por si só, vale uma literatura inteira.
Friedrich Schlegel: Camões é o expoente máximo da criação na poesia épica.
Miguel de Cervantes: Camões é o cantor da civilização ocidental.
Torquato Tasso: Camões é o único rival que temo.
Nas palavras da escritora portuguesa Iolanda Ramos: “o nome do poeta surge como um símbolo da união do mundo lusófono”, o que é corroborado por Vasco Graça Moura, escritor e crítico português, que indicou Camões como o fundador da língua portuguesa moderna por ter conseguido o feito de dar forma, através da palavra, a um senso de identidade nacional e assim erguer-se à condição de símbolo dessa identidade, transmitindo uma mensagem que se mantém viva e atual.
O livro Os Lusíadas é a maior epopéia nacionalista portuguesa e marcou profundamente Portugal, o povo português e a língua portuguesa de modo que a língua portuguesa recebeu o epíteto de “A Língua de Camões”. A obra é o mais forte símbolo de identidade e da pátria portuguesa, sendo considerada referência para toda a comunidade lusófona. Dentre as grandes influências para Camões estão os escritores João de Barros, Fernão Lopes de Castanheda e o amigo historiador Diogo do Couto.
Camões contribuiu para a evolução e para a gramática da língua portuguesa em vários campos como o da sintaxe, morfologia, ortografia, lingüística, fonética e semântica. Acadêmicos também apontam Camões como o grande responsável pela introdução de latinismos na língua portuguesa como os termos: aéreo, áureo, aquático, celeuma, diligente, diáfano, excelente, fabuloso, hemisfério, pálido, radiante, recíproco; entre outros. Os escritores Almeida Garrett, Antero de Quental e Oliveira Martins o apontaram como um símbolo da História de Portugal.
Os países que mais estudaram Camões foram Reino Unido e Estados Unidos, como uma verdadeira tradição, e que remonta ao século XVII, isso porque escritores ingleses e estadunidenses tiveram acesso às obras de Camões e tornaram-se fãs fervorosos e desejavam inspirar-se nele. Dentre os fãs estavam nada mais nada menos que: John Milton, Richard Burton, William Wordsworth, Lord Byron, Edgar Allan Poe, Henry Longfellow, Herman Melville, Emily Dickinson e a mais ardorosa entusiasta a escritora Elizabeth Browning. Eles ajudaram a produzir as traduções sobre vida e obra de Camões e muitos estudos na área de crítica literária.
Luís de Camões é considerado um dos maiores escritores de língua portuguesa e ainda, um dos maiores representantes da literatura mundial. Seu nome é conhecido em todo o mundo e é usado em diversas praças, avenidas, ruas e instituições. Desde 1924, na Faculdade de Letras de Lisboa, Camões é uma disciplina universitária – Camonologia. A data de seu falecimento foi convertida em Dia de Portugal, Dia de Camões e Dia das Comunidades Portuguesas.
Saiba mais em:
(*) Pinto, Paulo Jorge de Sousa. “Era uma vez… Portugal: Diogo do Couto – Um cronista do oriente”. RDP-Internacional / Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Disponível em Carreira da Índia, abril de 2009.
(**) Camões, filme de José Leitão de Barros, (primeira película portuguesa a participar do Festival de Cannes, em 1946)
Crédito da Imagem: Comunidade Cultura e Arte