Em 2001, algumas regiões de Portugal (denominadas “Centros” ou “Beiras”) iniciaram um movimento de resgate da língua lusitana. A idéia é que os portugueses possam conhecer e estudar a língua nativa dos lusitanos tal qual ela era, tanto a língua erudita quanto a popular; tanto o lusitano antigo quanto o moderno.
Comunidades nativas lusitanas e centros de apoio ao ensino do idioma lusitano têm publicado livretos e apostilas com o objetivo de fortalecer e resgatar a identidade nacional verdadeiramente lusitana. As comunidades, lideradas pelo Movimento Nacionalista Lusitano, aguardam um posicionamento do governo sobre o assunto e, pelo menos, três ações: o reconhecimento de Viriato como herói nacional, reconhecimento oficial e regularização da língua lusitana como língua oficial dos lusitanos e a criação de um território independente chamado Região Autônoma da Lusitânia, dentro de Portugal. Cumpre ressaltar que a Lusitânia é considerada uma das nações sem Estado da Europa e a nação viva mais antiga do continente; de acordo com acadêmicos a Lusitânia é, possivelmente, mais antiga que a Grécia.
Pesquisas estimam que, atualmente, a região da Lusitânia tem aproximadamente uma área mínima central de 27.000 km², 2.500.000 habitantes, sendo composta por três províncias históricas: Beira Baixa, da Beira Alta e da Beira Litoral; e seis distritos: Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu. À guisa de registro, nativos acrescentam que o território pode ser maior se a Grande Lusitânia (algumas terras, populações e territórios vizinhos) for incluída. A Grande Lusitânia, no passado, também fazia parte das chamadas “Terras Lusas”, e era composta especificamente das seguintes áreas: norte da região portuguesa do Alentejo, norte da província portuguesa do Ribatejo, terras ao norte do rio Douro, e território ocidental da região espanhola da Extremadura.
A capital histórica lusitana é Oxthrakai (Vila Velha de Ródão) e suas maiores cidades são Verurio (Viseu), Aeminio (Coimbra), Lankiobriga (Guarda), Leukastru (Castelo Branco), Alavario (Aveiro), Collipo (Leiria) e Tritio (Covilhã). Presentemente, cerca de cem pessoas falam o lusitano fluentemente e o idioma já vem sendo ensinado em pequenas escolas rurais das comunidades na região da Lusitânia, apesar da pequena quantidade de professores disponíveis.
O nome Lusitânia em língua lusitânica (leukantu) é Leukitanea e significa “terra da luz”. A língua nativa do povo lusitano é dividida em lusitano antigo e lusitano moderno (neo-lusitano). A língua lusitana (antiga) era formada por vários dialetos falados pelos nativos em suas tribos e foi falada até aproximadamente o século I d.C. Com a invasão romana, o latim foi instituído e pouco a pouco a língua lusitana ganhou novos contornos na medida em que o latim era incorporado. Surgiu uma língua crioula, e em poucos anos nasceu o que se denominou língua portuguesa. A este respeito, mormente, alguns estudiosos declaram que a língua lusitana nativa guarda bem poucas semelhanças com a língua portuguesa atual.
A língua lusitana, que também é chamada de língua lusitânica, é uma língua indo-européia, do ramo proto-celta (ou até do pré-proto-celta), falada na Lusitânia, e por tratar-se de uma língua celtibera guardava semelhanças com as línguas faladas no norte da Península Ibérica, como na Galiza (língua galaica), e sendo apontada por muitos historiadores como uma língua paleo-hispânica (paleo-ibéricas ou pré-romana).
A Província da Lusitânia foi um território habitado pelos lusitanos, povos ibéricos pré-romanos de origem indo-européia, inicialmente, denominados “Lusis” e foi criada pelo Imperador romano Augusto (Caio Otávio). A Lusitânia, na época, localizava-se nas regiões central e sul de Portugal dos dias de hoje, mais ou menos desde o Rio Douro até Algarve.
Estudos apontam que o povo lusitano era composto por pelo menos nove povos diferentes, e que, talvez, fossem não apenas ibéricos, mas também celtas ou, como alguns preferem definir, celtiberos. Não seria, portanto, esdrúxulo dizer que, provavelmente, todos os descendentes dos lusitanos têm tanto sangue ibérico quanto celta.
Os lusitanos habitavam a Península Ibérica desde antes de Cristo e tinham a fama de serem os mais valentes de seu tempo e muito hábeis em combate, apesar de, normalmente, pacíficos. As mulheres lusitanas eram consideradas admiráveis guerreiras que lutavam junto aos seus esposos para defender seus castros (aldeias), e, muitas vezes, morriam com seus consortes em batalhas. O lusitano mais famoso da História foi Viriato, aclamado líder da tribo dos lusitanos, que teria desafiado e enfrentado os romanos na denominada Guerra Lusitana.
Dados históricos apontam que a Lusitânia foi dividida em três partes e assim permaneceu até ser entregue aos alanos pelo Imperador Honório. Poucos anos depois foi dominada pelos visigodos e a seguir sucedeu-se uma série de tentativas de unificação e reunificação com o norte, dominado pelos Suevos (Reino da Galécia) em que figurou como parte do Reino de Leão; como Reino de Portucale e Galécia; Reino de Portucale, Galécia e Castela; Reino de Leão, Portucale, Galécia e Castela; e, finalmente, como reino independente.
Historicamente, o Reino de Portugal tem sua origem a partir da criação do Condado Portucalense (Portugália), outrora parte do Reino de Leão, fundado em 1093 pelo Conde Vímara Peres, do Reino das Astúrias, na Península Ibérica, cujo nome seria uma referência à cidade do Porto (Portus Cales, Portucale; há controvérsias, no entanto, boa parte dos pesquisadores declara que Portus Cales significaria Porto Belo), especificamente, o território que compreendia a Província de Entre-Douro-e-Minho. Vímara Peres foi o primeiro Conde de Portucale.
Em 26 de julho de 1139 Dom Afonso Henriques de Borgonha, o então Conde de Portucale, é aclamado Rei de Portucale. Quatro anos depois, em 05 de outubro, por meio de um tratado (Tratado de Zamora) o Reino de Leão reconhece Dom Afonso Henriques como Rei de Portucale. Entretanto, somente em 1179 é que a independência de Portucale é oficialmente reconhecida pelo Papado. A partir deste ano a dinastia Borgonha, ascendente da Casa de Bragança-Saxe-Coburgo e Gota, tem início. Todavia, a data da Independência de Portugal (do Reino de Leão) é, até os dias atuais, apontada para 05 de outubro, e o marco seria justamente o Tratado de 1143 (Zamora) pactuado entre os primos Dom Afonso Henriques e Dom Afonso de Leão (Afonso VII). A mesma data assinala o início da primeira dinastia autenticamente portuguesa; e, evidentemente, o início do Reino de Portugal.
Para saber mais detalhes sobre a língua lusitana nativa clique em:
Associação pela cultura étnica lusitana
RTP Notícias: não há uma política para a língua lusitana em Portugal, destaca Carlos Reis
Novas Perspectivas sobre os Lusitanos – Revista Portuguesa de Arqueologia (PDF)
Lusitânia – Artigo de Maximiliano Herrera
Língua Lusitana é uma língua paleo – Artigo de Ricardo Alves
A escrita lusitana – Artigo por José Paulo Duarte
Língua Lusitana – Artigo disponível em Forja de Lume
Bibliografia recomendada:
AREAN-GARCIA, Nilsa. Breve História da Península Ibérica. In. Revista Philologus, Ano 15, Nº 45. Rio de Janeiro: CiFEFiL, set/dez 2009.
BOTELHO, José Mario. Causas e consequências da dialetação da língua latina: um pouco de história externa da Língua Portuguesa. In. Cadernos do CNLF, Vol. XIV, Nº 4, t. 3. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2010.
CARDIM, R. Algumas considerações sobre ins. Em lusitano descoberta de arroches, sertã Paleohispânico J. de Hoz, p.47, 2010.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos da gramática histórica. – Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.
FARACO, Carlos Alberto. Linguística histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas. 1ª Ed., 4ª reimpr. : Fevereiro/2014 – São Paulo : Parábola Editorial, 2006.
GIORDANI, Mario Curtis. História dos reinos bárbaros – Idade Média II – 2ª ed.- São Paulo: Editora Vozes, 1974.
RIBEIRO, Ernesto Carneiro. Serões Grammaticaes ou Nova Grammatica Portugueza – 5ª ed. – Bahia : Aguiar & Souza, 1950.
ROQUETTE, J. I.; FONSECA, José. Diccionario dos Synonymos. Poetico e de Epithethos da Lingua Portugueza, EM CASA DE Vª J. P. AILLAUD, MONLON E Cª, Livreiros de suas Majestades o Imperador do Brasil e El-Rei de Portugal. Paris, 1856. Disponível em: ˂https://play.google.com/books/reader?id=cSU1AQAAMAAJ&printsec=frontcover&output=reader&hl=pt_BR&pg=GBS.PA113˃, acesso em 18/02/2015.
Crédito da imagem: Cultuga
Esta matéria é excelente e está muito bem escrita! O tema causa curiosidade, inquietação, abre uma nova perspectiva para pesquisa. Parabéns!