Sim, eu fui a um supermegaevento evangélico com tudo a que se tem direito: Música, louvores, oração, pregação, oferta e muita, mas muita citação da Bíblia! Sim, eu gostei! Ficou surpreso? Então, preste atenção, porque vou lhe contar como uma jornalista católica vê os evangélicos decidirem hoje o futuro do país e passa a reconhecer que eles são a maior força motriz para as mudanças de que o Brasil precisa.
A organização: O Hotel Blue Tree Premium, em Alphaville, próximo a São Paulo, foi o local escolhido para mais uma edição da Escola do Reino, cujas duas mil inscrições esgotaram-se em 15 dias, exigindo que o pastor Eduardo Reis abrisse mais três mil inscrições e ministrasse dois horários do curso para pastores, bispos e lideranças do mundo empresarial, às 16h e às 20h. Era uma segunda-feira e os participantes lotaram as duas sessões. O evento era gratuito, mas exigia o compromisso do comparecimento dos inscritos, sob pena de não mais participar de eventos próximos.
Na entrada, um batalhão de funcionários uniformizados cuidava de todos os pormenores, som e imagem de alta tecnologia, documentação, preparação de apresentações, estandes de comercialização de livros e cursos; parecia um megaevento como muitos que já fui em meios empresariais, entretanto, há uma conexão de trabalho que permite uma comunicação efetiva não apenas entre o público e a organização, mas entre os próprios colaboradores. O pastor Eduardo veio de Balneário Camboriú e estava desde manhã hospedado e cuidando pessoalmente dos detalhes, mesmo por telefone e mensagens, mas nada disso fez a diferença na organização, pois há uma certeza que se confirma na prática de que tudo vai dar certo.
O tratamento dado ao público em geral é sempre de acolhimento, característica da vivência nas igrejas, o que auxilia no trato com os participantes, mesmo que haja alguma lacuna ou necessidade de improviso. Mas não há. O centro da organização são a competência técnica e o talento individual dos colaboradores, e quando se coloca foco nas pessoas, a metodologia de trabalho sobressai naturalmente.
As pessoas: A Escola do Reino tem promovido seminários, palestras e workshops quase mensalmente e é dirigida por um dos maiores líderes evangélicos do Brasil, pastor Eduardo Reis, um jovem que se formou em Teologia e aprofundou seus conhecimentos com ênfase em Master Influence e empreendedorismo. Claramente conservador, valoriza a família, a ética e a honestidade. Ao contrário de muitos pastores, combate a teologia da prosperidade, o “toma lá, dá cá” da fé. Seu objetivo é levar a mensagem contida na Bíblia para o esclarecimento e o enriquecimento espiritual, profissional e financeiro dos fiéis. A sua volta, uma multidão de amigos que o apoiam e fãs que brigam por uma selfie. Este é o momento superstar que os líderes rejeitam, mas demonstram a força do carisma e da responsabilidade de transmitir a Verdade.
Casado com Priscila e pai de um bebê de seis meses, Lorenzo, Eduardo equilibra as atividades da Escola e de sua vida pessoal com impressionante vigor, pois chega a dar palestras por 12 horas consecutivas, com breve intervalo, apenas. Seu conhecimento da Bíblia impacta mesmo os mais estudiosos evangélicos, famosos por conhecer o livro “de trás para frente”. Atualmente, Eduardo se dedica a escrever seu primeiro livro, “A Saga de Lúcifer – Como lidar com o Mal”, título ainda provisório.
O Evento: O batalhão de técnicos, holdies, músicos, organizadores, assessores, recepcionistas, fotógrafos, iluminadores , encarregados e seguranças, minutos antes de começar o evento, simplesmente pararam em frente ao palco, ajoelharam-se e começaram a rezar. Como católica, o ato me emocionou porque me juntei a eles em oração, obrigatória a todos os cristãos, mas muitas vezes esquecidas por nós. Em verdade, orar de manhã, antes das refeições, à noite ou em momentos que nosso coração pede é sinal de confirmação de nossa fé, muitas vezes substituída por ações beneficentes. Uma não exclui a outra, como demonstraram aqueles jovens rapazes, conscientes de que seu trabalho é também missão.
O auditório principal e de apoio foram sendo ocupados rapidamente, enquanto o pastor e músico Luís Arcanjo, da banda Trazendo a Arca, “aquecia” os participantes com o gospel. Quando o pastor Eduardo entrou, nenhum gelo seco ou tapete vermelho. Considerado por si mesmo mais professor que pastor, essa é a nova face dos evangélicos que amadureceram no anúncio da Boa Nova e no contato com o mundo carente de lideranças genuínas. Com estrutura de empresa, a Escola do Reino tem tudo para ser um modelo híbrido entre a secularidade da política, do livre-mercado e do ensino, de um lado; e da Filosofia, Teologia e Fé Cristã, de outra parte. Essas forças poderosas se amalgamam na História do Brasil atual e apontam para a posteridade, diante dos desafios que se apresentam a um país que busca estabilidade, segurança e qualidade de vida.
Ao final, Eduardo anunciou o próximo evento, dia 9 de fevereiro, um workshop de 12 horas, no mesmo local, intitulado “Método da Restauração”, um treinamento em 9 passos para valorizar e restaurar a presença da Graça divina, cujo conceito está intimamente ligado à tradição cristã, em detrimento da lei da recompensa, considerado por ele uma constante casuística dentro das circunstâncias doutrinárias, seja de evangélicos, católicos ou leigos: ” Estamos acostumados, porque fomos educados assim: Se passar de ano, ganho uma bicicleta; se trabalhar duro, sou promovido; se estudar muito, entro na melhor faculdade. Mas esse ensinamento da vida não tem nenhuma relação com a Graça Divina, que é o entendimento de Deus”.
Por fim, mas digna de menção, a apresentação do pastor Eduardo Reis segue a melhor tradição dos espetáculos de motivação e coach. A conexão que ele estabelece com o público e que vai além da comunicação da mensagem, aliás, muito bem fundamentada nos versículos bíblicos, envolve a todos como co-participantes da palestra. Os recursos de interpretação e de retórica na verdade assumem às vezes papel central, em outras, pano de fundo e monopolizam a atenção de todos. Nada, porém, que não faça refletir ou tire o foco do protagonista da História: Jesus Cristo. Essa centralidade é essencial para que o empreendimento seja um sucesso e justifique a presença evangélica, hoje, nos centros de decisão do país.
Vai-se a era dos bandeirões vermelhos e palavras de ordem, frases feitas e sem sentido; bem-vindo o tempo de volta ao louvor a Deus, à pátria, à família.