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A Falta que faz uma vírgula

Preparar um texto para publicação é mais que um desafio: é uma participação que faz do revisor quase um coautor da obra. Nessa trajetória de muito prazer e lágrimas, não há quem não tenha dúvidas quanto à colocação de vírgulas. Há alguns anos escrevi um texto sobre o assunto, que foi publicado no Observatório da Imprensa e posteriormente utilizado no treinamento de professores para a rede estadual paulista. Como a vírgula não foi feita para humilhar ninguém, deixo aqui este recado para os que querem ler e escrever com fluência e clareza. Vamos a ele:

Além dos políticos, agora também os professores enveredaram pela arte de roubar o povo? O artigo, postado em 2008 pelo portal UOL logo em sua página inicial tem título impactante: “Brasileiros precisam debater corrupção em sala de aula, dizem especialistas”:

“Diferentes estudos e experiências mostram que a corrupção é um fenômeno complexo recorrente em todos os países e produz efeitos políticos, sociais e econômicos que prejudicam o desenvolvimento das nações. Mas, de acordo com especialistas em educação, o debate sobre a corrupção é fundamental e necessário logo no ambiente escolar. Para eles, mais do que saber o que é corrupção, é importante que os alunos aprendam a examinar, a criticar e a julgar mediante provas as várias faces da corrupção. `Feito isso repetidamente, como um hábito, estaremos formando cidadãos honestos´, afirma Cândido Gomes, doutor em educação pela Universidade da Califórnia e professor da Universidade Católica de Brasília […].”

Eu mesma, que fui professora por mais de vinte anos, nunca imaginei que nossa profissão merecesse esse destaque, no mau sentido. Nunca angariei um só centavo que não fosse fruto das muitas horas-aula e outras não contabilizadas de preparação e correção de provas e exercícios.

O argumento da urgência – Os colegas também devem ter ficado chocados. Como é possível ser corrupto entre as quatro paredes e com os alunos que mal têm condições para freqüentar a escola? Seria em relação à diretoria ou ao governo? Imagino, em tom ameaçador: “Ou vocês me pagam uma propina, ou neste semestre não vou ensinar o que é Objeto Direto.” Acho que a coerção não iria dar certo, pois saber ou não saber gramática é indiferente para os gestores de educação. E para muitos jornalistas também.

Que falta faz uma vírgula ou, pelo menos, uma inversão de termos para desfazer a ambigüidade (vou aproveitando para colocar trema onde precisa, antes que os fiscais do novo acordo me persigam…). Não seria mais adequado colocar vírgula antes do adjunto adverbial de lugar “em sala de aula” ou mudar o título para “Corrupção deve ser debatida em sala de aula, dizem especialistas”? Outro: “Corrupção é assunto para sala de aula, dizem especialistas”, caso os “especialistas” sejam realmente essenciais para o título, o que não acredito, pois o termo pode estar no corpo da matéria sem prejuízo para a comunicação.

Se resolvermos inquirir o redator, provavelmente ele dirá que estava com pressa para colocar o artigo no ar. O argumento da urgência no deadline parece que virou pretexto até para produzir títulos absurdos como esse, lido por milhões de internautas. Como professora, protesto! Como jornalista e leitora, vou à forra: “UOL seqüestra vírgula no portal.”

 

Vera Amatti

Colunista associado para o Brasil em Duna Press Jornal e Magazine, reportando os assuntos e informações sobre atualidades sócio-políticas e econômicas da região.

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